Título: Com Vivo, Telefônica vai à briga fora de SP
Autor: Cruz, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2011, Negócios, p. B12
Empresa planeja usar rede da operadora móvel para disputar mercado em todo o País
A competição entre a Oi e a Telefônica, as duas concessionárias locais de telefonia, tem sido bastante limitada até agora. Mas, com a integração da Vivo à Telesp (operadora fixa de São Paulo), essa situação deve mudar. A Vivo tem investido fortemente na ampliação de sua cobertura com tecnologia celular de terceira geração (3G), e essa infraestrutura deve reforçar a atuação da Telefônica fora de São Paulo.
"As telecomunicações para nós são um negócio de redes", afirmou o presidente do Grupo Telefônica no Brasil, Antonio Carlos Valente. "Nem todo mundo pensa da mesma maneira. Não tínhamos rede fora de São Paulo. Mesmo a Vivo tinha somente um segmento de rede. Essa situação vai se transformar no futuro."
Ao ser perguntado se isso significa que a Telefônica vai brigar com a Oi fora de São Paulo, Valente respondeu: "Certamente, teremos um cenário muito mais divertido daqui para a frente. Nos próximos anos, haverá uma quantidade importante de grupos de telecomunicações de atuação nacional. Temos muita coisa pensada para São Paulo e para fora de São Paulo."
A Vivo encerrou 2010 com 1,2 mil municípios cobertos por sua rede 3G. Até o fim deste ano, a expectativa é ultrapassar 2,8 mil municípios, que concentram 85% da população do País.
Rivalidade. Ao mesmo tempo em que a Telefônica passa por uma transformação no processo de incorporação da Vivo, o mesmo acontece com a Oi, com a chegada de um novo sócio ao bloco de controle, a Portugal Telecom. Depois de um ano de pouco investimento, a Oi voltará a ter os bolsos cheios este ano.
As mudanças na direção da Oi já começaram, e os portugueses devem ter muita influência na operação da companhia, aproveitando as experiências da Portugal Telecom em seu país de origem. Apesar de a operação em Portugal ser pequena, ela tem experiências que são referência mundial em áreas como distribuição de vídeo com tecnologia da internet.
A Portugal Telecom era sócia dos espanhóis na Vivo e, com sua entrada na Oi, passará a ser competidora.
Integração. A Telefônica planeja mudar o nome de sua operação de telefonia fixa para Vivo no primeiro semestre de 2012. "Virar a marca não é uma coisa muito difícil", afirmou Valente. "Poderíamos fazer amanhã, mas não queremos fazer somente uma mudança de marca, mas uma mudança na experiência do cliente, com pessoas habilitadas e sistemas integrados."
Segundo Valente, o foco atual da companhia está na integração societária. "Estamos finalizando nas próximas semanas a compra obrigatória de ações (dos minoritários)", explicou, acrescentando que a fusão ainda precisa ser avaliada pela Anatel e também depende de um acordo entre os conselhos das duas empresas. "No nível operacional, estamos estudando o que podemos integrar, mas com muita cautela, porque isso ainda depende dos passos societários."
Banda larga. Valente destacou que a Telefônica foi a empresa que mais cresceu em banda larga no Brasil em 2010, com a adição líquida de 680 mil acessos. O resultado foi importante porque o ano anterior foi marcado por panes do serviço e perda de clientes. "O ano de 2010 foi o melhor da Telefônica no Brasil, e esperamos que este ano seja ainda melhor", disse o executivo. "Apesar de tudo o que aconteceu em 2009, a volta que a empresa deu foi enorme."
Para o presidente da Telefônica, o crescimento da banda larga no País depende da venda, pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), de espectro e de licenças de TV a cabo.
"Existem áreas de urbanização precária, áreas periféricas, onde construir rede fixa física é muito complicado", disse o executivo. "Uma agilidade maior na oferta de espectro ajudaria as operadoras em todos os lugares, incluindo São Paulo. Quando a gente fala em espectro, as pessoas pensam em serviços móveis, mas essas licenças também são importantes para as empresas fixas."
Valente se mostrou otimista sobre a negociação com o governo a respeito do novo Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU 3). "O PGMU 3 é um plano de telefonia", disse ele. "Houve muito avanço, que provavelmente levará a algum tipo de acordo. Aí o espaço fica aberto para negociar o plano de banda larga. Tem de ser uma solução que faça sentido para todo mundo. Não uma solução para apenas uma das partes."