Título: Distribuidoras atrasam novas ligações
Autor: Gonçalves, Glauber
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2011, Economia, p. B4

Para não ficar sem luz, empresas e residências são obrigadas a usar geradores a óleo combustível enquanto esperam ligação elétrica

Não são apenas os apagões que têm atormentado a vida dos brasileiros. Nos últimos meses, empresas e consumidores começaram a detectar uma nova deficiência no setor: a demora das distribuidoras para fazer ligações elétricas em novos empreendimentos ou residências. Para quem pode, a alternativa tem sido usar os geradores a óleo combustível enquanto a ligação definitiva não é feita.

Foi o caso do empresário Sergio Luz, dono da empresa Kelp Engenharia, que construiu um centro comercial em Jundiaí. Apesar do sobrenome sugestivo, ele não teve facilidade para entregar o empreendimento em ordem na data prevista. A inauguração das lojas foi no fim do ano passado, mas a ligação definitiva da energia elétrica só ocorreu na última sexta-feira, depois que a reportagem do Estado procurou a distribuidora para entender o caso (a empresa não respondeu ao pedido de entrevista).

"Foram 75 dias de operação das lojas com gerador elétrico. Isso porque o pedido foi feito no início da construção", afirma Sergio. Ele conta que desde a inauguração foram várias reclamações e tentativas de entender o que estava ocorrendo. "Ninguém dava nenhuma satisfação." Esse não foi o primeiro problema que Sergio teve com demora na instalação elétrica. Em janeiro, ele inaugurou um outro centro comercial em Interlagos, em São Paulo, e também teve de usar gerador elétrico para o início de funcionamento das lojas.

O caso do presidente do Instituto Prometheus, Jorge Costa, exigiu ainda mais paciência. Em agosto do ano passado, ele alugou um imóvel na zona oeste da capital paulista para ser a nova sede do instituto, que faz estudos ambientais, culturais e políticos. Como o imóvel era antigo, ele teve de fazer uma reforma e nova fiação elétrica. Decidiu também mudar a fachada do imóvel e remover um poste que ficava bem na entrada. Para isso, contratou uma empresa especializada e fez um projeto de mudança, que foi aprovado pela distribuidora de energia.

Em outubro, a concessionária foi até o local e fez uma ligação provisória - ou gambiarra, como diz Costa - , que durou até a semana passada. Quando a obra foi finalizada, Costa procurou a distribuidora para efetivar a ligação. "Mandaram uma equipe terceirizada, que disse que não podia mexer nos fios porque passava em área de terceiros. Apenas um funcionário da Eletropaulo poderia resolver o problema", disse Costa. Desde então, foram sete protocolos referentes a reclamações do executivo, mas nenhuma solução.

Reclamação. "Nesse período, reclamei na Aneel (agência reguladora de energia em âmbito nacional) e na Arsesp (agência reguladora estadual)", diz Costa. Mas, o que era para ser uma solução, acabou se transformando em um novo problema. "Depois que reclamei nas agências, a distribuidora dizia que não podia mais resolver o problema porque o caso tinha ido para instâncias superiores. É um dos piores serviços que já vi."

O diretor executivo de Operações da Eletropaulo, Sidney Simmonagio, defende a distribuidora e diz que os indicadores da empresa estão bem abaixo dos limites regulatórios. "Na área urbana, o prazo é de dois dias e fazemos em 1,9 dia; no grupo A (alta tensão), temos sete dias e gastamos 2,1 dias. Está dentro dos parâmetros." O caso do Instituto Prometheus é uma exceção, completa Simmonagio.

Ele destaca que, no caso de grandes empreendimentos, as empresas esquecem que precisam fazer o pedido para nova ligação e depois querem o atendimento rápido. O problema é que, quando a demanda é grande, é preciso fazer estudo e verificar se há necessidade de reforço da rede. "Mas isso não se faz em 15 dias", diz o executivo.

Segundo fontes, algumas grandes instituições, como o Santander e a Drogaria São Paulo, tiveram problemas de atraso em ligações elétricas nos últimos meses. Nos dois casos, as novas unidades tiveram de funcionar com gerador durante um tempo. As companhias não retornaram ao pedido de entrevista feito pelo Estado.

O diretor de energia da Arsesp, Aderbal Arruda, diz que ainda não percebeu aumento nesse tipo de ocorrência na ouvidoria da instituição.

DUAS RAZÕES PARA...

Os atrasos nas instalações elétricas

1.A distribuidora de São Paulo garante que os casos de demora nas instalações são exceções.

O diretor executivo de Operações da Eletropaulo, Sidney Simmonagio, diz que a média de tempo que a empresa leva para fazer as instalações é inferior à exigida.

2.A Eletropaulo também pontua que é preciso seguir um trâmite específico para pedir a instalação.

Simmonagio diz, por exemplo, que as empresas (principalmente) esquecem que devem fazer o pedido de ligação e depois querem o atendimento rápido. Ele diz também que, quando a demanda é grande, é preciso fazer estudos para checar a necessidade de reforço da rede, o que leva mais de 15 dias.