Título: Venda de petróleo da Líbia é quase nula
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2011, Economia, p. B6

Contratos em dólar são suspensos após sanções dos EUA, inviabilizando o comércio

Reuters - O Estado de S.Paulo

O comércio de petróleo da Líbia está praticamente paralisado, enquanto os bancos se recusam a realizar pagamentos em dólar por causa das sanções americanas contra o regime do ditador Muamar Kadafi, disseram fontes à agência "Reuters".

As restrições, que se seguem à decisão das grandes companhias de petróleo dos EUA de suspender seus negócios com a Líbia, afetam o abastecimento de refinarias em países como França e Itália.

Cerca de metade da produção de petróleo da Líbia, estimada em 1,6 milhão de barris por dia - pouco mais de 1% da oferta global -, já está paralisada por causa dos confrontos entre forças governistas e rebeldes no país do norte da África.

"Os bancos não querem financiar o sistema na Líbia, então, por enquanto, ninguém está recebendo dinheiro do petróleo. Existem grandes problemas com os pagamentos", disse um agente de uma empresa petrolífera europeia.

Preço. O petróleo atingiu na segunda-feira sua maior cotação desde setembro de 2008 no mercado internacional, e a redução na oferta da Líbia gera uma pressão sobre os demais países da Opep para que elevem sua produção. O banco Goldman Sachs disse, no entanto, que a capacidade dos países exportadores para absorver o impacto do corte na Líbia é bem menor do que se imaginava.

Fontes ligadas ao setor petrolífero na Europa dizem que a decisão dos bancos de cortar o financiamento à exportação de petróleo líbio paralisou praticamente todas as transações.

"Não é uma questão de escolha, há um embargo aos dólares que entram e saem da Líbia", disse um porta-voz de uma empresa. "Todas as operações em dólar estão sendo bloqueadas", disse a fonte, acrescentando que não estava claro, a esta altura, se os pagamentos eram possíveis em outras moedas, e se os bancos da Suíça e da União Europeia estavam dispostos a concluir as transações.

A ONU, a União Europeia e vários governos ocidentais impuseram sanções e congelaram bens do governo líbio devido à violenta repressão do regime de Kadafi contra os rebeldes.

"Às vezes, é mais fácil não manter comércio nenhum do que manter um comércio com muitas exceções", disse uma fonte de um banco internacional, acrescentando que as interpretações jurídicas da UE poderiam, no longo prazo, reabrir caminhos para as transações.

"Se você puder provar que o dinheiro do petróleo comprado volta para contas não controladas por Kadafi e sua família, talvez possa argumentar que está comprando petróleo para fins humanitários, e que o dinheiro retornará para dentro do país", disse a fonte. Entre os principais compradores do petróleo líbio na Europa estão as empresas Eni, ERG, Total e Saras.