Título: Políticas agressivas de vendas de veículos
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2011, Economia, p. B2

A produção e as vendas de veículos voltaram a ser recordistas, em fevereiro e no primeiro bimestre, segundo a associação das montadoras (Anfavea) e a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). A produção foi de 310 mil veículos, no mês passado, e de 572 mil, no bimestre, e os emplacamentos, incluindo motos, atingiram, respectivamente, 430 mil unidades e 817 mil unidades. Os resultados positivos foram influenciados por aspectos sazonais e políticas de curto prazo das montadoras.

Em dezembro, foram empregadas estratégias agressivas de comercialização de veículos, a ponto de antecipar os resultados de janeiro, que, neste ano, foram mais fracos do que o usual. Em fevereiro ocorreu o contrário: o número total de unidades comercializadas aumentou 5,8% em relação a janeiro, na série dessazonalizada calculada pela área técnica do Bradesco. Mas as fortes vendas foram um fato incomum, só explicável pelo maior número de dias úteis (o carnaval deste ano caiu em março).

Uma análise rigorosa permite identificar que os emplacamentos já refletem as chamadas medidas macroprudenciais do Banco Central. A aceleração de fevereiro se deveu, em grande medida, às vendas dos dois últimos dias do mês nos segmentos de automóveis e comerciais leves, sem o que os resultados já teriam sido negativos.

A agressividade das vendas do ano passado parece se repetir, neste ano, pois as montadoras estabelecidas no País já levam em conta o temor dos consumidores de elevações de preços, influenciadas pela alta das matérias-primas, sobretudo do aço, mas também de componentes que dependem do petróleo (para-choques, painéis, tapetes e bancos, entre outros). Tem que ver, ainda, com a pressão crescente exercida pelas importações.

Segundo o presidente da Fenabrave, Sergio Reze, "os consumidores estão comprando em função da manutenção de renda e emprego, oferta de crédito e boas perspectivas da economia". Mas, em março, é improvável que a euforia persista, pois subiram os juros e, sobretudo, as prestações, dadas as restrições ao crédito de prazos mais longos para a compra de veículos. Entre este mês e abril, as vendas deverão refletir melhor os efeitos das medidas de contenção do crédito adotadas em 2010.

Na verdade, se o mercado de veículos continuar exibindo recordes, este será um fator de apreensão, sugerindo que a combinação de juros mais altos e medidas macroprudenciais está sendo insuficiente para desestimular a demanda tanto quanto desejariam as autoridades.