Título: Estou protestando e mudando
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2011, Economia, p. B6

A advogada Cristina Arfelli já substituiu marca de vários itens e trocou carne bovina pelo frango

Trocar de marca e até de supermercado são as alternativas usadas pelas amigas Janaína Moraes e Luciana Amaral Afonso para reduzir as despesas do apartamento que dividem, depois que a inflação empinou. "Troquei o sabão em pó Omo pelo Ariel, o açúcar mascavo Yasmin pelo Vita e o amaciante de roupa Comfort pelo Ypê", contou Janaína, que é consultora de vendas.

A amiga Luciana, que acaba de ficar desempregada e também trabalhava com vendas, disse que pode parecer uma economia pequena trocar de marca ou de supermercado. Mas, na prática, não é. No caso do amaciante e do papel higiênico, a diferença de preço é de R$ 1 por embalagem. Já no açúcar mascavo é de R$ 5.

As mudanças não se limitam a produtos. Janaína disse que já deixou de fazer compras no Pão de Açúcar e foi para o Sonda e o Dia% em busca de preços menores. Na semana passada, elas estavam na loja do Futurama. "Outro dia gastei no Pão de Açúcar R$ 60 só com itens para preparar lanches", lembrou Luciana, indignada com o valor desembolsado.

Protesto. "Estou protestando e mudando mesmo", afirmou a advogada Cristina Arfelli. Ela já trocou o papel higiênico Neve pelo Personal, o leite Molico pelo Dália e o sabão em pó Ariel pelo Tixan. A carne bovina também foi substituída pelo frango e pela carne de porco. "É um absurdo pagar R$ 80 por uma peça de picanha. Com esse dinheiro compro um par de sapatos."

Como a inflação retira poder aquisitivo e o bolso do consumidor é único, é racional que ocorra redução no consumo e substituição de marcas, disse o presidente do Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo e sócio da Felisoni Consultores, Claudio Felisoni.

Um estudo feito pela consultoria com cerca de 500 consumidores em outubro do ano passado mostra que o índice de substituição é elevado para uma lista de cerca de 20 produtos adquiridos em supermercados em todos os estratos sociais. "A substituição é alta para todo mundo porque os produtos de marcas diferentes são muito parecidos entre eles", disse Felisoni.

Mas ele destacou que, apesar do forte ímpeto do consumidor para trocar de marca, há itens em que o nível de substituição é muito baixo. Esse é o caso dos artigos de higiene, como desodorante, com índice de substituição na faixa de 30%, no caso da baixa renda.