Título: Muita cautela com esse PIB
Autor: Tamer, Alberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2011, Economia, p. B6

Saiu o PIB do ano passado, crescimento de 7,5%. Foi puxado pela demanda interna, com destaque para o consumo das famílias, que vem se expandindo há quase oito anos. Não recuou nem mesmo na crise financeira que levou o País à curta recessão, assinala o IBGE. Ele responde agora por 60% do PIB. Desta vez, o governo reagiu sem euforia, sem festas. Foi bom, sim, mas o que importa é o PIB de amanhã, que não se sustenta se a inflação, que já está em 6%, subir mais.

Aqui, há um fato que pode se tornar grave, mas pouco se fala. É a volta da indexação, inimiga mortal que envenenou o País por mais de duas décadas e levou o País ao abismo da hiperinflação de mais de 2.000%. Foi salvo pelo Plano Real, que extinguiu os reajustes pela inflação passada e acabou com a artifício dos planos anteriores, inúteis, dolorosos e frustrantes. A indexação é um novo risco que ressurge, lentamente ainda, mas contamina a formação dos preços. Já aparece nos ajustes salariais, preços, aluguéis, mensalidade escolar e serviços, criando expectativas inflacionárias que se disseminam pela economia e se autoalimentam.

Sem festa. O melhor sinal do crescimento excepcional do PIB veio da presidente Dilma Rousseff. Gostou, sim, mas não pode durar muito. Deixou que o ministro Guido Mantega ficasse com o discurso otimista - o Brasil é agora a 7.ª economia do mundo, não há superaquecimento -, mas se manteve distante da euforia. Depois de brincar com o "pibão", em sotaque de Minas, foi cautelosa e firme. Incisiva mesmo.

Disse que 7,5% é "bastante razoável", mostra que o Brasil pode crescer "tranquilamente" entre 4,5% e 5% nos próximos anos, sustentável, permanente, sem perder o controle da inflação. Vamos ter um olho na estabilidade e outro no investimento. Não vamos deixar a inflação ficar fora de controle.

E isso porque, tem reafirmado, é na alta da inflação que reside uma das causas principais da miséria que prometeu acabar no seu governo. Sinal de realismo saudável que desagrada a alguns aliados, mas atende ao que o País precisa. Estabilidade, equilíbrio, crescimento sustentável.