Título: China promete aumentar salários para melhorar distribuição de renda
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2011, Economia, p. B10

Na abertura do Congresso Nacional do Povo, primeiro-ministro Wen Jiabao disse que o desenvolvimento chinês não é bem balanceado

A China vai implantar uma política de aumentos regulares da remuneração dos trabalhadores e reajustes do salário mínimo para enfrentar de maneira "urgente" o problema da má distribuição de renda no país, declarou ontem o primeiro-ministro Wen Jiabao no discurso de abertura da reunião anual do Congresso Nacional do Povo, no qual previu crescimento de 8% do PIB neste ano.

O salário mínimo subiu cerca de 20% em 2010 e várias províncias chinesas anunciaram novos reajustes para este ano. Em Pequim, a alta foi de 21% e, em Xangai, de 14%. Ontem, Zhejiang divulgou elevação de 19% a partir de abril.

O movimento pressiona os custos das empresas, mas é essencial para outro objetivo do governo chinês: o aumento do consumo doméstico na composição do PIB e a redução do peso dos investimentos e das exportações. Os reajustes salariais também são inevitáveis diante da dificuldade que as indústrias da próspera costa leste do país estão tendo para recrutar trabalhadores do interior.

Wen falou durante duas horas diante de 3 mil delegados de toda a China e apresentou as prioridades para os cinco anos que serão cobertos pelo novo Plano Quinquenal (2011-2015). Para 2011, a meta número 1 é o controle da inflação, que historicamente ameaça a "estabilidade social" do país. A alta de preços foi um dos principais fatores que estiveram na origem dos protestos pró-democracia na Praça Tiananmen em 1989.

Sob o impacto da convocação anônima de manifestações no estilo das que varrem o mundo árabe, o discurso do primeiro-ministro reconheceu que o governo ainda não resolveu problemas que afetam "as massas", entre os quais citou a inflação, o "exorbitante" preço dos imóveis, a expropriação ilegal de terras e casas e a corrupção "desmedida".

Repetindo trecho dos discursos que realizou na mesma ocasião nos dois últimos anos, Wen ressaltou que o desenvolvimento chinês "não é bem balanceado, coordenado nem sustentável". O enfrentamento desses três desequilíbrios está no centro do novo plano quinquenal, que será aprovado durante a reunião do Congresso.

A meta de crescimento anual para 2011-2015 será fixada em 7%, abaixo dos 7,5% que vigoraram no período anterior. O percentual representa mais um piso do que um alvo a ser perseguido - o crescimento médio entre 2006 e 2010 foi de 10%. Mas a redução indica a disposição de Pequim de mudar o padrão de desenvolvimento do país.

Preservação. O plano desenha um modelo menos predatório de recursos naturais e do meio ambiente e prevê redução de 16% até 2015 no consumo de energia necessário para geração de cada unidade do PIB. Entre 2006 e 2010, a queda foi de 19,1%, pouco abaixo da meta de 20% fixada para o período.

O documento também determina um aumento de 8,3% para 11,4% da participação de fontes não fósseis na matriz energética chinesa.

"Nós vamos levar o desenvolvimento econômico a um novo patamar", declarou Wen em seu discurso, para em seguida prometer "significativa melhoria na qualidade e no desempenho do crescimento".

Nos próximos cinco anos, as autoridades de Pequim planejam elevar o investimento em pesquisa e desenvolvimento de 1,8% para 2,2% do PIB, aumentar o valor agregado da produção, expandir a participação do setor de serviços na economia e desenvolver indústrias emergentes estratégicas.

Entre elas, estão as relacionadas à conservação e pesquisa de novas fontes de energia, proteção ambiental, biotecnologia e veículos que usem energias alternativas. "A economia chinesa precisa ser colocada rapidamente no caminho do crescimento endógeno movido pela inovação", declarou o primeiro-ministro.

As questões sociais também ganharam destaque e o plano prevê expansão dos recursos destinados à educação, saúde e previdência social. Em meio à crescente insatisfação com a inflação e a alta do preço dos imóveis, as autoridades chinesas discutiram nos últimos dias a inclusão da "felicidade" da população entre os critérios de avaliação dos líderes locais do Partido Comunista.

Ontem, Wen ecoou o tema em seu discurso. Segundo ele, o governo deve assegurar que "as pessoas estejam contentes com suas vidas e empregos, a sociedade esteja tranquila e ordeira e o país desfrute de paz e estabilidade de longo prazo".