Título: O que os rebeldes terão de enfrentar na capital
Autor: Sant"Anna, Lourival
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2011, Internacional, p. A8

Se atacarem Muamar Kadafi na capital da Líbia, os rebeldes enfrentarão forças leais ao ditador cuja composição vai de soldados de elite a civis armados, passando pelos temidos milicianos de bandana na cabeça. Após duas semanas de insurreição, as forças do governo parecem determinadas a manter o controle sobre Trípoli para lutar contra o que dizem ser uma campanha organizada pela Al-Qaeda para desestabilizar a Líbia.

Kadafi não pretende correr riscos, mantendo suas forças em alerta máximo apesar dos relatos de grandes vitórias sobre os rebeldes noticiadas pela emissora estatal de televisão. Membros da 32.ª Brigada da Líbia, liderada por Khamis Kadafi, filho do ditador, estão instalados em postos de controle dentro e nos arredores de Trípoli. A 32.ª é a mais bem treinada das três "unidades de proteção ao regime" - as únicas forças armadas diretamente leais a Kadafi.

Os postos de controle que não ficam sob supervisão da brigada de Khamis estão nas mãos de outros agentes altamente treinados das forças de segurança. Seus uniformes variam: às vezes trata-se de uma farda verde convencional, e há também uniformes mistos - verdes com camuflagem bege - representando diferentes grupos das forças de segurança. Alguns usam coletes à prova de balas. Homens usando roupas civis e portando fuzis AK-47 sobre os ombros costumam observar tudo, mantendo-se afastados enquanto as inspeções se tornam mais rigorosas.

No outro extremo das Forças Armadas circulando na Líbia estão os ameaçadores milicianos de bandanas verdes que cruzam os bairros apertando a buzina de seus veículos esportivos utilitários. As armas não se limitam aos soldados e aos milicianos, como os rebeldes logo descobrirão se continuarem com a campanha para depor o ditador.

Ontem, na Praça Verde, em Trípoli, partidários de Kadafi reuniram-se para entoar gritos de guerra depois dos relatos de que as forças do governo teriam lançado contraofensivas bem sucedidas em várias cidades.

A música era alta e havia muitos AK-47 em circulação. Adolescentes brandiam os fuzis no ar. "Não é apenas o Exército que lutará para defender Kadafi. Posso lhe dizer que 4 milhões de líbios têm armas. Eles vão usá-las", disse Osama Salwaat, um empresário. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL