Título: Vale aposta em energia como área de negócios
Autor: Ciarelli, Mônica
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2011, Negócios, p. B14

Segundo executivo, mineradora pretende crescer em fontes renováveis

A mineradora Vale quer mudar a forma como encara o mercado de energia. A empresa pretende deixar de investir apenas para suprir as próprias necessidades de consumo e apostar no setor como uma área de negócios independente - repetindo a experiência da área de logística, que hoje já reponde por 4% da receita bruta da companhia.

Em entrevista à Agência Estado, o diretor executivo de Marketing, Vendas e Estratégia da mineradora, José Carlos Martins, afirmou que as energias renováveis estarão no centro da nova estratégia da companhia. "Somos uma empresa de recursos naturais. Energia se encaixa perfeitamente na nossa vocação", afirmou o executivo.

A decisão de tornar essa área um negócio lucrativo tem como pano de fundo a visão de que o crescimento da economia mundial, puxado pela China, vai exigir uma geração de energia cada vez maior. Segundo Martins, ainda existem muitos recursos naturais a serem explorados para atender à crescente demanda. O problema, porém, é preço.

"Quando se fala em procurar petróleo a 7 mil metros de profundidade, não se tem o mesmo custo do que na Líbia, onde é quase na flor da terra", afirma. Em um cenário de custos elevados, a Vale entende que a demanda por projetos de energia renovável se torna mais viável.

Para o executivo, o sucesso dessa estratégia está no investimento em "altíssima" tecnologia. "Estamos investindo forte nesse processo", disse Martins, ao explicar que são projetos de clonagens ou de tecnologia de processos para aumentar o rendimento da energia produzida. Atualmente, os gastos com energia representam quase 20% dos custos da companhia.

Entrada tardia. A principal concorrente da Vale, a mineradora anglo-australiana BHP Billiton, está no setor de energia há anos. Mas, para Martins, há diferenças de visão entre as duas companhias. "A BHP está em energia fóssil (petróleo). O nosso grande foco é a energia renovável."

Segundo ele, a Vale chegou tarde nesse mercado e busca a energia renovável como um nicho de crescimento. Um passo nessa direção foi dado no mês passado com a compra, por US$ 173,5 milhões, do controle da Biopalma da Amazônia, produtora de óleo de palma, matéria-prima para o biodiesel. Para o executivo, o mundo entrou em uma era de escassez de recursos naturais e quem não tiver acesso à energia terá seu crescimento limitado.

Para surfar com tranquilidade nesse cenário, a Vale tem investido mais pesado no setor. Desde 2007, a mineradora já desembolsou mais de US$ 2 bilhões em projetos de energia e outros US$ 794 milhões estão orçados para este ano - essa cifra não inclui aquisições. Um projeto que pode engordar esse valor é o da hidrelétrica de Belo Monte. Martins reiterou que a empresa estuda a possibilidade de comprar a fatia da Gaia, empresa do grupo Bertin, em Belo Monte.

Para garantir o superávit energético em uma empresa que consume 4,5% de toda a energia do País, projetos na área de petróleo também estão no radar. No total, a gigante da mineração já tem participações em 22 blocos de exploração de óleo e gás, sendo 20 em mar e 2 em terra.