Título: Japão declara estado de emergência nuclear e admite risco de vazamento
Autor: Trevisan, Claudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2011, Internacional, p. A20

Tremor de 8,9 graus na escala Richter afetou funcionamento de um reator da usina atômica de Fukushima, uma das maiores do mundo

O Japão declarou ontem estado de "emergência nuclear" e retirou milhares de habitantes da região da usina atômica de Fukushima, uma das maiores do mundo, cujo sistema de resfriamento parou de funcionar em razão da interrupção de energia provocada pelo terremoto de 8,9 graus na escala Richter que atingiu o país. Foi a primeira vez que esse tipo de alerta foi adotado nos 40 anos de utilização de energia nuclear no Japão.

O governo japonês admitiu que houve um pequeno vazamento em Fukushima, depois que funcionários relataram um aumento da pressão em um dos reatores da usina. O ministro do Comércio e da Indústria, Banri Kaieda, afirmou que as autoridades autorizaram a adoção de providências técnicas para se liberar vapor radioativo - o que levaria a diminuir a pressão.

De acordo com a Agência de Segurança Nuclear do Japão, a pressão em um dos seis reatores da usina já era de 1,5 vez superior ao nível considerado normal. Os técnicos da agência, porém, garantiram que o vapor radioativo liberado não é prejudicial ao ambiente ou à saúde da população. Os níveis de radiação nos arredores da usina, no entanto, estavam naquele momento mil vezes acima do que normalmente é registrado na usina.

Em retirada. Por precaução, o governo determinou a retirada de 3 mil moradores que vivem em um raio de 3 quilômetros ao redor da usina, que fica a cerca de 280 quilômetros ao norte de Tóquio. Dali para as áreas mais distantes, os que vivem em um raio de até 10 quilômetros de Fukushima foram informados de que poderiam continuar, sem problemas, dentro de suas casas.

A Agência Internacional de Energia Atômica foi comunicada do problema pelo governo do Japão e divulgou nota ressaltando que o combustível nuclear exige resfriamento permanente, mesmo quando os reatores das usinas são desligados.

A ausência desse processo provoca aquecimento excessivo e aumenta o risco de vazamento de material radioativo. O sistema deveria funcionar mesmo em uma situação de emergência, mas o gerador movido a diesel falhou depois do terremoto, o que levou à redução do nível de água em um dos reatores.

Segundo a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, o governo americano enviou, por meio de um porta-aviões, material para ajudar no resfriamento do reator.

O Japão depende de usinas nucleares para geração de aproximadamente um terço da energia que consome. Dos 55 reatores atualmente em operação no país, 11 foram desligados com o tremor de ontem. O setor de turbinas da usina nuclear de Onagawa, localizada na região de Miyagi, chegou a pegar fogo, mas o incêndio foi controlado.

A tragédia comprometeu 20% da capacidade de produção de energia atômica e deixou milhões de pessoas sem eletricidade em todo o país.

Preço do petróleo. Refinarias com capacidade de processar 820 mil barris de petróleo por dia deixaram de operar, o que provocou queda no preço do produto. Segundo a agência Bloomberg, o volume equivale a 19% da capacidade de refino do país, que é o terceiro maior importador de petróleo do mundo, depois de EUA e China.

A suspensão das atividades das refinarias causará uma redução temporária da demanda por petróleo, o que explicaria a queda nas cotações.