Título: Normas técnicas da construção civil salvaram vidas
Autor: Gonçalves, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2011, Internacional, p. A24

Com suas muralhas oceânicas que protegem boa parte da costa japonesa, seus arranha-céus que oscilam para absorver o choque dos terremotos e suas normas técnicas da construção civil, consideradas entre as mais rigorosas do mundo, o Japão pode ser o país mais bem preparado para suportar grandes tremores.

Se qualquer outro país densamente povoado tivesse sido atingido pelo terremoto que abalou o Japão ontem, que teve uma magnitude de 8,9 graus na escala Richter, o número de mortos já poderia facilmente ter chegado às dezenas de milhares.

Até o momento, os mortos no Japão estão na casa das centenas, mas é certo que este número deve aumentar um pouco.

Ao longo dos anos, o Japão investiu bilhões de dólares no desenvolvimento da tecnologia mais avançada do mundo contra terremotos e tsunamis. Acostumados aos tremores de pequenas proporções e sobreviventes de alguns grandes sismos, os japoneses sabem como reagir aos tremores e aos tsunamis por causa dos treinamentos regulares - diferentemente da população do Sul da Ásia, entre a qual foi grande o número de vítimas no tsunami do Oceano Índico de 2004 por ter permanecido perto da costa, apesar dos alertas pedindo que fugissem da região e fossem para locais mais altos.

As comunidades ao longo da costa japonesa tendem a se mostrar mais bem preparadas, especialmente em áreas que já foram atingidas por tsunamis no passado. As autoridades locais costumam entrar em contato direto com os residentes por meio de sistemas de alerta instalados em cada lar. Trilhas e rotas de fuga conduzindo a pontos mais elevados são, em geral, claramente sinalizadas.

No Japão, país que deu ao mundo a palavra tsunami, foram construídas - especialmente nas décadas de 80 e 90 - muralhas oceânicas protegendo muitas comunidades, e algumas chegam a 12 metros de altura.

Além disso, algumas cidades costeiras prepararam redes de sensores capazes de soar alarmes em cada residência e fechar automaticamente as comportas hidráulicas quando um terremoto é registrado para impedir que as ondas invadam o curso dos rios. Alguns portos são equipados com plataformas elevadas.

No entanto, os críticos das muralhas oceânicas dizem que estas, além de feias, afetam negativamente o meio ambiente. Eles também dizem que as muralhas inspiram uma falsa sensação de segurança entre os moradores da costa, o que os desestimula a participar dos treinamentos de retiradas de emergência.

Além disso, ao bloquear a vista dos moradores em relação ao mar, as muralhas reduzem sua capacidade de observação dos padrões oceânicos, prejudicando o entendimento de seus fenômenos, dizem os críticos.

De acordo com a emissora nacional de televisão NHK, as ondas do tsunami de ontem superaram as muralhas nas regiões afetadas. Mas ainda é cedo para afirmar se outras muralhas oceânicas e os treinos regulares de retirada - ou uma combinação de ambas as coisas - evitaram que o número de mortos fosse maior. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL