Título: Centros ensinam como reagir durante terremoto
Autor: Crespo, Silvio
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2011, Internacional, p. A26

Uma das atrações turísticas de Tóquio, Centros de Prevenção de Desastres mostram como sair ileso de um tremor

O Japão é, de longe, o país mais bem preparado para enfrentar tragédias naturais como terremotos, tsunamis e tufões. Não só pelo fato de registrar mais de mil tremores perceptíveis por ano(sem contar os detectados apenas por sismógrafos), mas também pela consciência cívica dos japoneses - o que faz com que toda a população receba treinamento regular para enfrentar tragédias naturais, como o terremoto de ontem.

A obsessão japonesa em evitar mortes e amenizar danos nessas situações chegou ao ponto de transformar o Centro de Prevenção de Desastres em uma das atrações turísticas mais visitadas de Tóquio. Conhecidos por Bosai-kan, os três centros mantidos pelo Corpo de Bombeiros estão espalhados em diferentes regiões da capital. Funcionam nos moldes de um museu, mas seu objetivo é ensinar aos visitantes como proceder durante um terremoto, incluindo abrir as portas, esconder-se embaixo de uma mesa, além de manusear um extintor de incêndio e deixar em segurança um local tomado pela fumaça.

Ali também é possível aprender a acionar o telefone de emergência - no Japão, o número é o 119 - e como prestar primeiros socorros. A experiência mais marcante, porém, é o módulo suspenso que reproduz uma cozinha onde é simulado um terremoto de 7 graus na escala Richter. Nos primeiros 10 segundos, é praticamente impossível ficar de pé ou tentar buscar o abrigo sob a mesa. Outra atração é o simulador de fumaça, uma sala escura onde todos são orientados a correr para a saída. Vários audiovisuais, um deles em 3D, reproduzem cenas e ruídos de um terremoto. Há também um vasto arquivo fotográfico sobre as tragédias naturais registradas no país.

O público-alvo são as crianças - é comum ao turista dividir os espaços com dezenas de alunos de até 10 anos concentrados em aprender as lições. Para o turista, o programa parece divertido no começo, mas, no fim, fica a sensação de alívio pelo fato de tudo não passar de simulação.

Outra constatação é a de que o Japão aprendeu a dura lição de conviver com catástrofes naturais. O parâmetro até hoje para os japoneses é o terremoto de 1923, que arrasou Tóquio, Yokohama, e as cidades vizinhas de Chiba, Kanagawa e Shizuoka. O sismo de 7,9 graus na escala Richter - menor que o de ontem - deixou 100 mil mortos e mais de 40 mil desaparecidos.

Desde 1960, o 1.º de setembro (aniversário da tragédia) é considerado o Dia da Prevenção de Desastres, um feriado cívico que os japoneses usam para reforçar o treinamento da população para enfrentar os desastres naturais que atingem o país.

Não fosse essa disciplina, traduzida em leis rígidas para edificações e na consciência de que uma tragédia pode ocorrer a qualquer momento, o número de mortos ontem teria sido muito maior.