Título: Ensino e pesquisa ajudam Bauru a custear qualidade
Autor: Toledo, Karina
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2011, Vida, p. A14

Moradores de Bauru, a 335 quilômetros da capital paulista, já estão habituados a ver ônibus de diversos Estados levando pacientes para o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (USP), mais conhecido como Centrinho. A procura é tão grande que se multiplicou, no entorno da instituição, o número de pensões de baixo custo para abrigar as famílias que vêm de longe em busca de tratamento.

Reza a lenda que, quando o hospital começou a funcionar, em meados dos anos 1960, os pacientes de fora chegaram a ser hospedados nas casas dos próprios funcionários. Na época, o Centrinho era praticamente o único hospital público que oferecia tratamento para portadores de fissura labiopalatina - uma malformação na região do lábio e do céu da boca popularmente conhecida como lábio leporino.

Embora hoje existam outros 27 centros no País, o Centrinho ainda é um dos poucos que oferecem tratamento integral para o problema, sem o qual os portadores ficam com sequelas graves. "Quando se faz apenas a cirurgia primária, ou seja, o fechamento do lábio e do palato, a deformação no rosto fica pior do que se não tivesse sido feito nada e há prejuízo na fala. Além da cirurgia primária, o paciente precisa de acompanhamento secundário, com cirurgias plásticas e tratamento odontológico e fonoaudiológico", diz João Henrique Nogueira Pinto, superintendente em exercício.

Além de atender a portadores de outras anomalias craniofaciais, causadas por mais de 2 mil síndromes genéticas conhecidas, o Centrinho também tem programas para deficientes auditivos.

O custo para manter toda a estrutura ultrapassa R$ 6 milhões por mês. Os repasses do SUS cobrem cerca de 35% desse valor, sendo o restante custeado pela USP. O investimento em ensino e pesquisa foi a saída para manter o modelo viável.

Humanização. A instituição iniciou seu programa de pós-graduação na década de 1990 e hoje oferece cursos de residência, especialização, mestrado, doutorado, aprimoramento profissional e prática profissionalizante. "A pesquisa nos permite desenvolver técnicas mais baratas e eficazes, além de atrair parcerias e financiamentos internacionais", diz Pinto.

Entre os quase 80 mil pacientes que já passaram pelo Centrinho em suas quatro décadas de existência, há pessoas de 3,3 mil cidades do Brasil e outras 51 do exterior. Muitas chegam ainda bebês e são acompanhadas periodicamente até o início da vida adulta.

Para facilitar o deslocamento, a instituição entra em contato com as prefeituras para organizar o transporte e agrupar, em datas próximas, o atendimento de pessoas de uma mesma região. Em parceria com uma associação de pacientes, o hospital mantém um alojamento com 70 vagas, sala de descanso e refeitório. Uma brinquedoteca e atividades recreativas, como contagem de histórias, ajudam a tornar a estada mais leve para as crianças.

Para os adultos, atividades manuais também ajudam a passar o tempo, como no caso do motorista Carlos Pereira de Lima, de 46 anos, que saiu de Touros, no Rio Grande do Norte. Enquanto aguardava a filha sair de uma cirurgia, ele desfiava algodão para fazer uma almofada. "Fico muito nervoso, mas aqui sempre tenho uma palavra amiga. A gente faz uma coisa, faz outra e o tempo vai passando."

FICHA TÉCNICA

Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP(Centrinho de Bauru)

Fundação: 1967 Funcionários: 762 Área construída: 19 mil m2 Nº de leitos: 91 Casos novos em 2010: 2.982 Atendimento pelo SUS: 100% Atendimento particular: Não Serviços: reabilitação de portadores de fissura labiopalatina e outras anomalias craniofaciais, tratamento para deficientes auditivos, incluindo realização de implante coclear Oferece cursos de pós-graduação e residência médica