Título: Campanhas ajudam a cobrir déficit
Autor: Toledo, Karina
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2011, Vida, p. A14

Hospital de Câncer de Barretos depende de doações para fechar o mês

Quando o fazendeiro Henrique Prata assumiu a gestão do Hospital de Câncer de Barretos, em 1989, a instituição atendia cerca de 200 pessoas por dia, tinha 80 funcionários, 1,5 mil m2 de área construída e apenas uma bomba de cobalto para realização de radioterapia. Hoje são 3 mil atendimentos diários, 2,5 mil colaboradores, quase 70 mil m2 de área construída e um acervo de R$ 40 milhões em equipamentos.

Prata atribui a rápida expansão à sua filosofia de oferecer apenas o que há de melhor no tratamento contra o câncer. Todos os anos, ele visita os principais centros de oncologia do mundo para conhecer as novidades. "Se descubro que há algo melhor do que aquilo que temos aqui, paro o que estou fazendo e vou atrás de parceiros para colocar a nova ideia em prática."

Graças a doações de pessoas de todo o País, parcerias com empresas privadas, apoio de artistas e do governo estadual, o hospital consegue cobrir os R$ 5 milhões que faltam todos os meses para tapar os custos que não são arcados pelo SUS. "Quase metade desse valor o governo de São Paulo ajuda a custear. Com o meio artístico, eu consigo R$ 5 milhões por ano de doação. O restante eu tenho de fazer campanha todo mês para arrecadar", conta Prata. "Não há como fazer medicina de ponta com os recursos do SUS."

O empresário consegue angariar tantos recursos porque tem resultados para mostrar. Em 2008, o hospital fundado por seu pai - o médico Paulo Prata - foi apontado pelo Instituto Nacional de Câncer, dos EUA, como referência para pesquisa na América Latina. Desde então, tem firmado parcerias com os mais importantes centros, entre eles o MD Anderson, do Texas. "Meu pai dizia que se eu conseguisse conciliar prevenção, assistencialismo e pesquisa, o mundo nos reconheceria como um centro sério. Foi no que deu."

Visitantes. Em 2010, o hospital abriu uma unidade em Jales, perto da divisa com Mato Grosso do Sul, para diminuir o número de pacientes da Região Centro-Oeste. Mas o tiro saiu pela culatra. A pequena redução percebida em Mato Grosso do Sul foi compensada pelo aumento de pacientes de outros Estados.

Para atender a essas pessoas, o hospital mantém 13 alojamentos com capacidade para 650 pacientes e acompanhantes. Na Casa de Apoio Madre Paulina, por exemplo, são oferecidos pouso para 260 pessoas e cinco refeições diárias - também para aqueles que se hospedam em casas particulares ou pousadas mantidas por prefeituras. Entre os hóspedes atuais está a acreana Gerusa Maria Matos da Cruz, de 51 anos, que tem câncer de cabeça e pescoço. No dia 20, ela completará um ano distante de Cruzeiro do Sul (AC), a 3,5 mil km de Barretos.

Após a experiência frustrada em Jales, Prata percebeu que a única forma de evitar o deslocamento desses pacientes até Barretos seria levar a prevenção e o diagnóstico precoce à origem do problema. Recentemente, firmou parceria com o governo de Rondônia e deve assumir até abril a gestão do Hospital de Câncer de Porto Velho (RO). Também deve ajudar o governo do Mato Grosso na criação de um centro local de referência. Em Juazeiro, na Bahia, foi criado um centro para fazer rastreamento de câncer de mama. / COLABOROU BRÁS HENRIQUE

FICHA TÉCNICA

Hospital de Câncer de Barretos

Fundação: 1967 N.º atendimentos por dia: 3 mil Municípios atendidos em 2010: 1.372 Déficit mensal: R$ 5,4 milhões N.º de refeições diárias: 8 mil N.º de alojamentos: 13 (com capacidade para 650 pessoas) Pacientes atendidos em 2010: 50.865 N.º de funcionários:2,5 mil, sendo 250 médicos em tempo integral e dedicação exclusiva