Título: Ginásio abriga mais de 50 brasileiros em Ishige
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2011, Internacional, p. A23

Famílias que perderam tudo na cidade japonesa aguardam ajuda em centro de socorro do governo

A paulistana Camila Hirai está abrigada em um ginásio na cidade de Ishige, estado de Ibaraki, no Japão. Ela se refugiou no local com o marido, Daniel, com a filha de seis anos, Milena, pai, mãe e irmãos.

O terremoto que atingiu o Japão ontem destruiu todos os móveis da família e deixou o apartamento sem água e sem luz. "Quando cheguei em casa estava tudo revirado, micro-ondas, pratos, fogão, tudo no chão, tudo quebrado", diz Camila.

O ginásio é preparado para terremotos, mas mesmo assim, quando conversou com o Estado por telefone, Camila acabava de sair correndo do local com a família e estava em seu carro. Eles ficaram com medo de um tremor secundário.

"Enquanto falo com você, a terra está tremendo", contou Camila. "Essa é a pior experiência da minha vida".

Nesse mesmo ginásio, estão abrigados mais de 50 brasileiros, refugiados do terremoto. Eles trabalham nas fábricas da Ishige, cidade localizada a 65 quilômetros de Tóquio. Muitos brasileiros vivem na cidade, cuja página na internet tem tradução para o português.

Camila chegou ao Japão aos 19 anos, seguindo os passos do pai, mãe e irmãos, que já haviam imigrado para o País.

"O meu caso foi diferente de outros brasileiros, que deixam a família no Brasil. Eu vim para me reunir com eles", disse. Foi no Japão que conheceu o marido, o também brasileiro Daniel Muraiama, e teve a filha Milena.

No momento do terremoto que devastou parte do país ontem, Camila estava no trabalho, uma fábrica que monta copiadoras. Ela conta que a terra tremeu muito e todos se refugiram nos pátio central.

"Os brasileiros se abraçavam e choravam. Foi assustador. Tentavam usar o celular para falar com a família, mas não conseguiam", disse. Ishige está distante 341 quilômetros do local mais castigado pelo terremoto, a cidade de Sendai.

Ela conta que os chefes japoneses da fábrica só se deram conta da extensão da catástrofe algum tempo depois e mantiveram os funcionários no local por mais de uma hora, esperando o momento de voltar ao trabalho.

Camila conseguiu escapar pela porta dos fundos da empresa. Quando saiu, o marido a estava aguardando na rua, sem conseguir contato pelo celular. A filha do casal já estava com ele. "Foi um alívio", afirma.

A família agora está se virando como pode. Conseguiu comprar pacotes de macarrão instantâneo, com o qual tem se alimentado. Obtiveram ainda 30 litros de água em uma escola.

"O medo é grande e a boataria também", disse Camila. "Ligamos o rádio e eles nos aconselham a estocar comida. As pessoas ficam em pânico e as prateleiras dos supermercados estão vazias", contou.

Também circulam rumores de que toda a energia do Japão pode ser cortada nas próximas horas por causa do vazamento da usina nuclear. "Agora só podemos aguardar o que vai acontecer", disse Camila.