Título: Petrobrás segura preço até quando der
Autor: Tereza, Irany
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2011, Economia, p. B4

Segundo diretor da estatal, não há nenhuma previsão de reajuste para os derivados de petróleo, apesar da disparada no preço do barril

Há um mês e meio acima da barreira dos US$ 100 o barril, a cotação internacional do petróleo passa ao largo dos preços internos dos principais combustíveis vendidos no País: gasolina, diesel e GLP. Na expectativa de uma reversão rápida do conflito no norte da África, a Petrobrás mantém a intenção de não repassar a alta ao preço de refinaria.

"Nossa política aqui não vai mudar. Não há previsão de reajuste de preço, quer seja no diesel, na gasolina ou no GLP", afirmou o diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, em entrevista à Agência Estado.

O executivo argumenta que a companhia monitora a evolução internacional e trabalha com um limite para a cotação, que não quis revelar. Quando começou a seguir a política de descolamento com o mercado internacional, a estatal havia estipulado um limite de três meses para o cálculo da média de preços e a fixação de novos patamares, mas na prática não seguiu essa fórmula.

Costa, falando por hipótese, comenta que uma elevação do petróleo a US$ 150 exigiria uma reação "urgente" no mercado doméstico, mas não revela os parâmetros que estão sendo usados pela Petrobrás, alegando que se trata de uma estratégia interna. "O tempo (limite para deflagrar um repasse) varia de acordo com o preço. Não dá para dizer que a cada três meses teremos uma variação em relação ao mercado internacional. Se o petróleo bater, daqui a pouco, US$ 150 o barril, obviamente vamos ter de pensar numa coisa urgente para resolver isso."

O preço dos combustíveis, teoricamente liberado no País, segue nos últimos oito anos uma interferência direta do governo. Este ano, com o esforço para manter a inflação dentro da meta de até 6,5%, a manutenção do preço da gasolina e do diesel tem importância crucial. O item gasolina é o segundo de maior peso no cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado nas metas inflacionárias do governo - só perde para o item "refeição fora de casa".

Salomão Quadros, da Fundação Getúlio Vargas, lembra que reajustes nos preços de combustíveis têm impacto tanto na inflação ao consumidor quanto no atacado. "O efeito indireto é grande. Os combustíveis impactam qualquer índice de inflação no mundo todo."

Limites. Para analistas, está claro que a política de preços dos combustíveis extrapola os limites da empresa. "É uma decisão que não cabe à Petrobrás, mas ao governo. Gasolina e diesel são componentes importantes na inflação, com impacto grande na cadeia de preços", diz Eduardo Roche, do Banco Modal.

Ele calcula que a defasagem dos preços internos com os internacionais já chega a 30%, no caso do diesel, e perto de 10% para a gasolina. Mas acredita que somente uma deterioração de preços em países produtores mais importantes da África e Oriente Médio será capaz de provocar uma reação imediata no Brasil.

A principal preocupação da Petrobrás é que a instabilidade dos países em conflito se estenda à Arábia Saudita. Costa não afasta a possibilidade de um reajuste no curto ou médio prazo. Especialistas temem o estrago que uma política de preços desatrelada do mercado internacional possa trazer à geração de caixa da Petrobrás, comprometida com um plano de investimentos de US$ 224 bilhões até 2014.

"A empresa tem investimentos pesados a cumprir e a geração de caixa tem de acompanhar esse compromisso. Gasolina e diesel representam 70% das vendas da empresa, baseadas principalmente no mercado interno", diz Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

Costa discorda, argumentando que a política da estatal é de longo prazo. "Será que podemos falar em dificuldade de atender por descolamento de preço? É temerário fazer essa conclusão."