Título: Tremor deve devastar também finanças do Japão
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2011, Internacional, p. A13

Economia do país já estava vulnerável antes da catástrofe, e previsões são pessimistas. Hoje, a Bolsa de Tóquio abriu com queda de 5%

Reuters - O Estado de S.Paulo

A economia do Japão será bastante afetada pelo terremoto e pelo tsunami de sexta-feira. No futuro, ela poderá até receber um forte impulso com a reconstrução, mas as previsões são cada vez mais pessimistas à medida que se torna evidente a escala do desastre. Hoje, a Bolsa de Tóquio abriu com ações em queda de 5% - as empresas já começaram a reduzir suas operações para lidar com os prejuízos e com a crise energética que se anuncia.

O Japão se recuperou bem depois de seu último desastre natural de grandes proporções, o terremoto de 1995, que destruiu o porto de Kobe. No entanto, a nova tragédia, que provocou grande devastação, ocorre no momento em que a economia japonesa está em uma situação muito mais vulnerável. O país sofre as consequências da maior dívida pública entre as economias avançadas - o dobro do tamanho do seu PIB, de US$ 5 trilhões. Além disso, a dimensão do desastre, o maior desde a 2ª Guerra, segundo o primeiro-ministro, Naoto Kan, aumenta à medida que detalhes da devastação se tornam conhecidos.

De acordo com a imprensa local, o número de mortos pode chegar a 10 mil. Quase 2 milhões de casas estão sem luz e cerca de 1,4 milhão não têm água. Técnicos lutam para evitar uma desastrosa fusão nuclear em uma das usinas atômicas.

"Há tantos fatores de incerteza, como o número de vítimas e de desaparecidos, que ainda não consigo imaginar a extensão dos danos e seu impacto na expansão da economia em geral", disse Kyohei Morita, principal economista da Barclays Capital no Japão. A maioria dos economistas acredita que a atividade econômica registrará uma desaceleração até junho, para depois recuperar-se assim que a reconstrução ganhar impulso.

No entanto, um acidente na usina nuclear de Fukushima acrescentou uma nova dimensão ao quadro da tragédia. As autoridades conseguiram retirar 140 mil pessoas dos arredores da usina e provocaram uma dispersão da radiação para conseguir controlar o reator. É o pior acidente nuclear depois do de Chernobyl, em 1986.

"Desde a Guerra Fria não me pediam para avaliar as consequências econômicas de uma explosão nuclear em uma área densamente povoada em uma moderna economia", disse Carl Weinberg, economista da High Frequency Economics. "Não é uma tarefa que me agrade."

A economia já enfrentava uma grave crise antes do desastre. O PIB encolheu 1,3% no quarto trimestre de 2010. Segundo a Reuters, os economistas previam que ele voltasse a crescer 0,5% no primeiro trimestre, mas isto foi antes do terremoto.

Muitos analistas disseram que, embora fosse possível que a economia não voltasse a crescer rapidamente, se expandiria pelo menos até o fim do ano. Takahide Kiuchi, economista da Nomura Securities, de Tóquio, afirmou que a taxa de crescimento do Japão será muito mais afetada por este desastre do que pelo de Kobe, em 1995. Segundo ele, a produção "poderá registrar um declínio mais prolongado, talvez por vários meses".

Quanto à economia mundial, o Japão não é um dos principais fatores do crescimento global. Portanto, o desastre não representa um risco grande para outros países - talvez apenas um aumento vertiginoso dos preços do petróleo provocado pelas revoltas no Oriente Médio e no Norte da África. "A economia global terá um bom desempenho", disse Stephen Stanley, economista da Pierpoint Securities.

Outros são otimistas sobre o impulso proporcionado pela reconstrução. "Depois de um declínio inicial do PIB, a atividade econômica crescerá graças à reconstrução", afirmou Mohamed al-Erian, um dos supervisores de investimentos da Pacific Investment Management.

Se as consequências de um terremoto mais brando, como o de Kobe, servissem de comparação, o PIB japonês teria de crescer mais de 3% nos três próximos trimestres, afirmam os analistas. O sismo atingiu áreas costeiras e concentrou-se ao redor de Sendai, no norte do país, em uma região onde operam indústrias automotivas e fábricas de semicondutores.