Título: Crise inibe remessas de divisas à América Latina e ao Caribe
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2011, Economia, p. B5

Em 2010, total foi de US$ 58,9 bilhões, cifra apenas US$ 100 milhões acima do registrado [br]pelo BID no ano anterior

As remessas de divisas estrangeiras para a América Latina e o Caribe em 2010 somaram US$ 58,9 bilhões, cifra apenas US$ 100 milhões maior do que a do ano anterior, conforme estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) a ser divulgado hoje. A crise financeira mundial e a consequente elevação do desemprego aparecem como as principais razões da queda nesses fluxos, cujo pico foi de US$ 69,2 bilhões em 2008.

As remessas de brasileiros residentes no exterior caíram 26,1%, em termos reais, como reflexo da sobrevalorização da moeda, da inflação e do crescimento econômico. Em 2010, totalizaram US$ 4,044 bilhões.

Os dados do BID apontaram o Brasil como o recordista de queda nessas transferências diretas. As remessas vindas do Japão, principal destino de trabalhadores brasileiros, apresentaram uma curva acentuada para baixo desde 2005, quando as taxas de crescimento econômico começaram a avançar mais acentuadamente (com a exceção de 2009). De US$ 1,6 bilhão, em 2005, as transferências chegaram a pouco mais de US$ 400 milhões, em 2009.

"O desempenho econômico do Brasil e do Peru nos últimos anos não incentiva as remessas. Além disso, esse crescimento pode estimular o retorno de emigrantes para seus países de origem. Por exemplo, do Japão, um dos tradicionais destinos dessa diáspora", conclui o estudo.

No caso do Peru, as remessas vindas do Japão também seguiram uma curva contrária às sucessivas taxas de crescimento econômico desde 2000. No ano passado, o país recebeu US$ 2,534 bilhões - queda real de 11,2% diante de 2009.

Em situação econômica delicada, a Venezuela apresentou um aumento real de 64,2% nas remessas do exterior. Totalizaram US$ 756 milhões. A segunda expansão positiva foi a do Haiti, de 13%, receptor de US$ 1,971 bilhão em 2010.

Maior destino dessas divisas na região, em volume, o México registrou entrada de US$ 21,271 bilhões em 2010. Mas essa cifra representou uma queda real de 10,6%. Em 2009, o resultado já havia caído em 16%.

Principal força de trabalho estrangeira nos EUA, os mexicanos foram atingidos pelo fraco crescimento da economia do país. Os trabalhadores negros e os latino-americanos (em especial, mexicanos) foram os principais afetados pela alta do desemprego, que atingiu 9,8% em dezembro de 2010.

O estudo do BID enfatiza não ter havido ainda uma "mudança significativa" na tendência da taxa de emprego nos EUA, em função do crescimento ainda insuficiente para cobrir os postos de trabalho fechados ao longo de 2009, auge da crise.

O mesmo ocorre com a Espanha, principal destino de cidadãos das nações andinas. As remessas de divisas da Espanha para esses países caíram 22% no ano passado.