Título: Em abrigo, faltam comida e aquecimento
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2011, Internacional, p. A12

Sobreviventes dormem de maneira improvisada em ginásio e ficarão sem gás nos próximos dias

O abrigo administrado pelo engenheiro Kunji Kumagai, em Kesennuma, na Província de Miyagi, ficará sem gás dentro de dois dias e ele não sabe se conseguirá distribuir refeições quentes para as cerca de 200 pessoas que estão no lugar. "Eu me sinto Envergonhado", afirmou.

Kunji perdeu a mãe no tsunami e sua casa foi destruída. Desde sábado, ele tem a responsabilidade de gerenciar os escassos recursos à disposição dos desabrigados. A escola onde estão continua sem energia elétrica e o fornecimento de água ainda não foi restabelecido.

O amplo ginásio onde os sem-teto vivem é aquecido apenas por três pequenos aparelhos movidos a óleo. Se houver um novo tremor forte, eles podem cair e provocar um incêndio no local. Por isso, Kunji passou a noite em claro, olhando os aquecedores.

A temperatura caiu bastante ontem em Kesennuma e nevascas atingiram a cidade e toda a região que mais sofreu com o tsunami. O frio e a neve dificultaram as operações de resgate e tornaram ainda mais difícil a situação dos refugiados e dos que continuam sem eletricidade em suas casas.

"Está faltando gás em todo o Japão. No abrigo há crianças e idosos que precisam de leite e de refeições quentes", disse Kunji. Além da preocupação com os desabrigados, ontem ele passou a temer a ameaça radioativa em Fukushima. "Falaram que o nível de radiação está baixo, mas eu não acredito."

Nos últimos cinco dias, a idosa Takiko Kinno dormiu em um ginásio lotado na cidade de Ofunato, na Província de Iwate. O local não tem eletricidade ou água corrente. A quantidade diária de comida oferecida não passa de uma tigela e meia de bolinhos de arroz.

"Estamos presos num limbo", disse a idosa, que divide o abrigo com outras 500 pessoas, a maioria com idade acima dos 60 anos. "Não sabemos onde e como vamos viver ou quanto tempo levará para sairmos daqui." Por todo o Japão, refugiados lotam escolas, hospitais e ginásios convertidos em abrigos provisórios.