Título: Tragédia deve atrasar em seis meses recuperação econômica
Autor: Wassener, Bettina
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2011, Internacional, p. A14

Infraestrutura portuária na região mais afetada do país pode passar meses ou até anos inoperante

TÓQUIO

A destruição causada pelo maior terremoto da história do Japão, seguido de um tsunami, deve atrasar em seis meses a recuperação econômica do país, segundo previsão do Nomura, o principal banco de investimentos do país.

A instituição previa uma retomada de crescimento no segundo trimestre de 2011, depois da queda de 1,3% no Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre de 2010, mas agora estima que a recuperação só deve ocorrer no final do ano. Com a retração no PIB, o Japão perdeu o posto de segunda maior economia do mundo para a China.

A economia deve começar a se recuperar nos últimos meses do ano por conta dos trabalhos de reconstrução. "Desastres naturais são imediatamente negativos para o crescimento, mas tendem a ser positivos no médio prazo", avalia Glenn Maguire, economista-chefe de Ásia-Pacífico do Société Générale.

Para agravar ainda mais a situação, a infraestrutura portuária do Japão, crucial para o país receber ajuda externa, matérias-primas e bens destinados à reconstrução das áreas afetadas, foi gravemente danificada. Segundo a publicação setorial Lloyd"s Intelligence, a paralisação dos portos deve causar prejuízos de US$ 3,4 bilhões por dia por causa do cancelamento de embarques. No ano passado, o comércio marítimo do Japão totalizou US$ 1,5 trilhão. Pelos portos, transitam até 7% de toda a produção industrial japonesa.

Os portos de Hachinohe, Sendai, Ishinomaki e Onahama, na costa nordeste, devem passar meses ou até anos inoperantes. Esses são portos médios, especializados principalmente no transporte de contêineres, embora alguns também manipulassem combustíveis e produtos a granel.

"O impacto de curto prazo sobre a atividade econômica pode ser maior do que após o terremoto de Kobe", disse Jiyun Konomi, analista do Nomura, referindo-se ao desastre de 1995, que matou 6 mil pessoas. "Após o terremoto de Kobe, a atividade no transporte de cargas levou três meses para voltar aos níveis pré-terremoto."

Os portos de Tóquio e de todas as localidades ao sul da capital estavam operando normalmente depois de interromperem brevemente suas operações após o sismo de sexta-feira. / AGÊNCIAS INTERNACIONAIS