Título: BC japonês vai injetar US$ 244 bi na economia
Autor: Wassener, Bettina
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2011, Internacional, p. A14

Medida de alívio tenta blindar empresas e conter aversão ao risco nos mercados

Ao injetar o valor recorde de US$ 183,28 bilhões (15 trilhões de ienes) no sistema financeiro e afrouxar ainda mais a política monetária por meio de uma expansão nas compras de ativos, o Banco do Japão (BoJ, o banco central japonês)correu ontem para proteger a economia do país e os mercados financeiros em declínio pelo impacto do terremoto e subsequente tsunami que abalaram a região. Hoje (horário local), o BoJ anunciou o aporte de mais US$ 61,2 bilhões, totalizando US$ 244,48 bilhões.

A ampliação da compra de ativos de 5 trilhões de ienes para 10 trilhões de ienes resultou de uma reunião de política monetária do BoJ, cuja duração foi reduzida de dois para um dia e que manteve a taxa básica de juros inalterada (entre 0 e 1%). "O prejuízo do terremoto foi geograficamente disseminado", informou o BC japonês em nota. O banco disse que as medidas de alívio são "destinadas a impedir que a deterioração no sentimento das empresas e os movimentos de aversão ao risco no mercado tenham impacto negativo na economia como um todo".

A ação foi imediatamente elogiada pelo governo. O ministro das Finanças, Yoshihiko Noda, saudou a "ação rápida e apropriada" do BoJ e disse esperar que o banco continue sua estreita cooperação com o governo. Para o economista do banco espanhol BBVA em Hong Kong, Stephen Schwartz, as medidas foram "muito apropriadas em se tratando de lidar com o impacto no curto prazo". "É necessário algum tempo até que possamos avaliar em termos quantitativos o impacto do desastre sobre a economia como um todo, mas parece claro que no momento teremos de deixar de lado os planos de consolidação fiscal."

Mercado. No primeiro dia de pregão, após a tragédia, o Índice Nikkei 225 teve queda de 6,2% e fechou em 9.620,49 pontos, o nível mais baixo desde novembro. Por causa do terremoto, várias empresas japonesas - entre elas Fujitsu, Toyota e Sony - foram obrigadas a interromper a produção em todas ou algumas de suas instalações, e as manufaturas industriais e as ações financeiras estiveram entre os principais perdedores do mercado

A Mitsubishi Motors registrou queda de 11,8%; a Nissan, 9,5%, e a Toyota, 7,9%. A Sony perdeu 9,2%; a Canon, 5,9% e a Panasonic, 8,1%. Os principais bancos do país também apresentaram queda acentuada. O Mizuno Financial Group caiu 10,5%; o Mitsubishi UFJ Group, 7,2%

Em comparação, as empresas da construção civil registraram ampla valorização com a expectativa da imensa reconstrução necessária nas áreas mais atingidas pelo tremor. Hazama Corp. e Kumagai Gumi, por exemplo, registraram valorização de mais de 40%, e a Kajima Corp., uma das maiores do setor, apresentou ganho de 22,2%.

"Boa parte do estrago está simplesmente na perda de propriedade e nos danos à infraestrutura, e as seguradoras e empresas de resseguro suportarão a maior parte do fardo", disseram economistas do DBS em Cingapura. Economistas do Credit Suisse em Tóquio estimaram que as perdas econômicas totais podem chegar a 15 trilhões de ienes.

O custo da reconstrução e da limpeza vai aumentar a pressão sobre as finanças do governo. O terremoto ocorreu num momento em que a economia japonesa começava a apresentar sinais de crescimento, e aumentou o medo de que o princípio de recuperação fosse no mínimo adiado.

Enquanto isso, o iene japonês se mostrou volátil, primeiro fortalecendo-se ante o dólar e depois enfraquecendo após a injeção de liquidez do BC. Em Tóquio, no fim da tarde, o dólar era cotado a 82,09 ienes, comparados a 81,84 ienes em Nova York ao fim da sexta-feira.

Mas, em relação à cotação antes do terremoto, o iene se valorizou conforme empresas e seguradoras repatriaram recursos para ajudar na reconstrução. Isso prejudicaria mais os exportadores, pois um iene fortalecido encarece artigos japoneses no exterior. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL