Título: Catástofre no Japão derruba mercados
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2011, Economia, p. B1

Custos da catástrofe provocam temor de revés na recuperação mundial; a médio prazo, porém, reconstrução pode aumentar a demanda

SÃO PAULO - O terremoto que atingiu o Japão, terceira maior economia do mundo, provocou temores de que a recuperação global sofra um revés. No médio prazo, no entanto, a reconstrução do país pode aumentar a demanda por alimentos e energia, colocando mais lenha na fogueira da inflação global.

As bolsas de valores caíram ao redor do mundo, refletindo as perdas dos setores de seguros e energia nuclear. Em Tóquio, o índice Nikei N225 recuou 6,2% - a maior queda desde outubro de 2008. Na Europa, o FTSE 100, cedeu 0,92% em Londres e o CAC 40 caiu 1,29% em Paris. Nos Estados Unidos, o Dow Jones perdeu 0,43%.

Os investidores temem o impacto para as exportações de China, Estados Unidos e Europa da queda imediata do consumo japonês. O mercado já previa um crescimento de apenas 1,5% para o Japão em 2011, mas as projeções pioraram, principalmente no primeiro semestre.

No Brasil, o Ibovespa subiu 0,73%, puxado pelas siderúrgicas e pela Petrobrás, que podem ganhar com a reconstrução. "No primeiro momento, prevalece o susto. No segundo, os mercados se darão conta da reconstrução. No terceiro, se o Japão investir menos em energia nuclear, aumenta a demanda por petróleo e carvão", disse José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.

O petróleo caiu 0,15% em Londres, para US$ 113,67 por barril, e fechou estável em Nova York a US$ 101,19 por barril. Os investidores estavam divididos entre dois efeitos: a redução imediata no consumo de petróleo do Japão e a maior demanda no médio prazo por causa da destruição das usinas nucleares e térmicas do nordeste do país.

Cálculos do Crédit Suisse apontam que as perdas indiretas e diretas provocadas pelo terremoto e pelo tsunami podem chegar a 15 trilhão de ienes (US$ 180 bilhões), metade dos prejuízos registrados em Kobe, destruída por um terremoto em 1995.

As quatro áreas mais afetadas do país - Iwate, Miyagi, Fukushima e Ibaraki - respondem por apenas 6% do Produto Interno Bruto (PIB). O problema é que ainda não está claro o impacto em outras regiões. "O que mais complica é questão energética. Até quando as usinas vão ficar inativas?", questiona Raphael Martello, economista da Tendências Consultoria.

A capacidade de geração de energia do Japão pode ter sido reduzida em 25%. Para compensar as perdas no nordeste, o governo japonês está promovendo apagões parciais em todas as áreas, incluindo regiões industriais. Se os blecautes persistirem, comprometerão a produção industrial e os serviços.

Pacote. Para amenizar o pânico financeiro provocado pelo desastre, o Banco Central do Japão elevou em 5 trilhões de ienes (US$ 60 bilhões) o programa de compra de ativos e injetou recursos no mercado diário. A autoridade monetária conseguiu manter o iene estável ante o dólar.