Título: Jornal faz edição extra para alerta
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2011, Internacional, p. A11

Principal veículo da comunidade nipo-brasileira, o ''São Paulo Shimbun'' muda sua rotina após o tsunami e enfrenta dificuldades de comunicação

O terremoto seguido de tsunami que atingiu o Japão tem alterado a rotina da redação do jornal São Paulo Shimbun, impresso publicado em japonês e português de maior circulação na comunidade nipo-brasileira. No dia da catástrofe, a redação foi convocada às 6h para a elaboração de uma edição extra, pois a que valeria até o sábado já estava nas bancas.

Na tarde daquela sexta-feira, uma publicação atualizada já noticiava a tragédia nas ruas da Liberdade - bairro de São Paulo que abriga imigrantes orientais e seus descendentes na cidade.

"Pusemos a edição à venda em uma loja da Rua Galvão Bueno (uma das mais movimentadas vias da região). Foi assim que muita gente ficou sabendo da catástrofe por aqui", disse a editora-chefe do São Paulo Shimbun, Kátia Sattomura.

A jornalista contou que, ao sentir o terremoto em Tóquio e obter as primeiras notícias, o correspondente Akeo Seto mandou um e-mail para a direção do jornal. A madrugada mal terminava no Brasil. Mais da metade dos 30 repórteres do São Paulo Shimbun é de japoneses e muitos dos que são brasileiros têm parentes no Japão. A apreensão tomou conta de todos.

Kátia explicou que, apesar de nenhum profissional ter família na Província de Miyagi, a mais atingida pelo tsunami, a dificuldade em falar com os parentes no Japão causou preocupação. "Só de tarde soubemos que ninguém se feriu."

Mesmo não tendo edições domingo e segunda-feira, a redação foi convocada para o plantão do fim de semana. Kátia contou que "muita gente" da comunidade nipo-brasileira ligava para o jornal em busca de informações.

O leitores foram orientados, pelo telefone ou por notas no São Paulo Shimbun, a procurar as associações que representam as províncias japonesas em que vivem seus parentes. Um deles era o presidente da Associação Miyagui Kenjinkai, em São Paulo, Koichi Nakazawa, que vive há 47 anos no Brasil e não conseguia contato com os oito irmãos que tem na região, mas logo soube que todos estavam bem.

A editora recomenda que parentes de vítimas procurem a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social Bunkyo, que concentra no País o contato com as autoridades do Japão.

"Muitos parentes estão ligando lá atrás de notícias", contou a jornalista, explicando que o maior foco das reportagens do São Paulo Shimbun, nos últimos dias, é divulgar campanhas de doações para as vítimas.

Kátia afirmou que, atualmente, a principal dificuldade para obter informações na região mais afetada pelo tsunami é chegar ao local. Por causa da ameaça de contaminação radioativa, as autoridades japonesas estão impedindo que jornalistas entrem nas províncias mais afetadas pelo tsunami.

"O contato com nosso correspondente está difícil. Não permitem que ele chegue a Miyagi por causa do problema (da usina nuclear) em Fukushima", disse a editora.