Título: Após catástrofe múltipla, Japão luta contra desabastecimento e radiação
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2011, Internacional, p. A11

No nordeste do país, parentes buscam sobreviventes em listas de refúgios - Novas panes em reatores nucleares ameaçam ampliar tragédia - Esperanças de encontrar pessoas vivas entre escombros se reduz - Brasileiros deixam área mais afetada

Ainda sob o choque da múltipla tragédia que atinge o Japão desde sexta-feira, milhares de japoneses enfrentam agora a dolorosa procura por parentes que desapareceram na fatal sequência de terremoto de 9 graus na escala Richter, tsunami que levantou onda de 10 metros de altura e danos a três centrais nucleares - que ameaçam contaminar a atmosfera do país.

Os supermercados estão desabastecidos, principalmente de comida pronta, arroz, macarrão instantâneo, enlatados, carnes e biscoitos. Muitos hotéis deixaram de servir café da manhã por falta de alimentos. Lojas e a maioria dos restaurantes estão fechadas.

Nos postos de gasolina, apenas carros envolvidos nas operações de emergência podem ser abastecidos. O número estimado de mortos subiu ontem para 6.000, mas poderá ultrapassar os 10 mil depois de uma avaliação mais precisa da situação pelas autoridades.

Quase 500 mil pessoas foram retiradas de regiões atingidas pelo desastre e 15 mil foram resgatas pelas equipes que trabalham na busca de sobreviventes.

Na estação ferroviária, a única lanchonete aberta só serve café, por falta de suprimentos. A circulação de trens continua suspensa e, na frente do edifício, dezenas de táxis esperam passageiros que não chegam.

No centro de emergência instalado na localidade de Morioka, dezenas de pessoas folheiam em silêncio listas intermináveis com os nomes dos que estão em abrigos na Província de Iwate, uma das mais afetadas pelo tsunami causado mais violento terremoto da história do Japão.

Ontem nevou em Morioka e várias regiões de Iwate, o que agravou ainda mais a difícil situação das 48 mil pessoas que estão em abrigos provisórios. Nas casas e hotéis, o uso do aquecimento foi reduzido em razão da falta de energia e de combustível.

A esperança é encontrar aqueles com os quais perderam contato desde o tremor, seguido de um tsunami de 10 metros de altura e em meio ao temor crescente de contaminação nuclear em razão dos danos que a onda gigante infligiu a três usinas atômicas.

Eri Oikawa tentava localizar o avô e a mãe de seu namorado, que estavam na cidade de Rikuzantakata, totalmente devastada pelas ondas que varreram a costa nordeste do país.

Em um sofá ao lado, um homem que se identificou apenas como Sakamoto escrutinava as listas em busca do nome de seu irmão mais novo, que se mudou em janeiro para Kamaishi, onde trabalhava numa fábrica de pneus.

"Venho aqui todos os dias", disse Sakamoto, que não teve nenhum contato com o irmão desde a tragédia. Segundo ele, um amigo recebeu a informação de que ele está vivo, mas sua localização é desconhecida.