Título: Fiesp pede mais equilíbrio no comércio Brasil-EUA
Autor: Warth, Anne
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2011, Economia, p. B13

Em reunião com secretário de Comércio americano, Skaf reclamou do déficit comercial

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, pediu ontem mais equilíbrio nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. Após se reunir com o secretário de Comércio americano, Gary Locke, Skaf reclamou do déficit comercial do Brasil com os EUA no ano passado, de US$ 8 bilhões, e ressaltou que a projeção para este ano é de um novo déficit, de US$ 10 bilhões.

"Chamamos a atenção para o fato de que o fluxo comercial com os EUA em 2010 foi praticamente o mesmo de 2004, mas, na época, tínhamos um superávit de US$ 8 bilhões e hoje temos um déficit de US$ 8 bilhões", disse Skaf. O presidente da Fiesp também reclamou da queda da participação de produtos manufaturados nas exportações brasileiras para os Estados Unidos. Em 2004, os produtos manufaturados representavam 74% das vendas externas brasileiras ao país. No ano passado, representaram 51%. "O volume de exportações continua igual, mas o perfil piorou muito. Com o andar da carruagem, sem dúvida as coisas pioraram muito para o Brasil, ficaram muito desequilibradas."

Locke não falou com a imprensa, mas, de acordo com Skaf, ele reconheceu a necessidade de maior equilíbrio no comércio bilateral. Por outro lado, informou o presidente da Fiesp, para cada US$ 1 bilhão que os EUA exportam para o Brasil, 5 mil empregos são criados ou mantidos. Segundo ele, também foram temas de discussões a retomada da Rodada Doha, a renovação da inclusão do Brasil no Sistema Geral de Preferências (SGP), as barreiras americanas ao açúcar e ao etanol brasileiros e a possibilidade de um acordo para acabar com a bitributação.

De acordo com Skaf, Locke reconheceu a legitimidade das demandas brasileiras e admitiu que alguns pontos devem ser estudados, mas foi evasivo e não deu garantias. "Eu não esperava muito", disse Skaf. "A vinda de Obama (Barack Obama, presidente dos EUA) ao Brasil é um gesto de reaproximação, mas cabe a nós transformar esse gesto em ações concretas."

O diretor do Departamento de Infraestrutura da Fiesp, Carlos Cavalcanti, disse que os EUA ainda impõem muitas barreiras a produtos brasileiros, embora se declarem o país mais aberto do mundo. "A aproximação diplomática é importante, mas ninguém enche a barriga com gestos de boa vontade. Nesse campo, esperamos atitude mais concreta do governo americano."

Prioritário. O presidente do Banco de Importação e Exportação dos EUA (Eximbank), Fred P. Hochberg, admitiu que o Brasil é um dos nove países considerados prioritários para a instituição, mas também é aquele em que as relações com a instituição evoluem de forma mais lenta. Além do Brasil, as nações mais importantes para o Eximbank, atualmente, são México, Colômbia, Turquia, Nigéria, África do Sul, Indonésia, China e Índia.

"Todos esses países apresentam crescimento rápido do PIB (Produto Interno Bruto) e grande necessidade de investimentos em infraestrutura. Nossa atuação cresceu muito em todos, exceto no Brasil, onde os investimentos continuam os mesmos de dois anos atrás." Sem citar os períodos a que se referia, Hochberg disse que, nos últimos anos, os empréstimos do banco na Colômbia saltaram de US$ 30 milhões para US$ 5 bilhões.

Hochberg disse que a instituição disponibilizou US$ 2 bilhões para investimentos da Petrobrás e US$ 1 bilhão para projetos ligados à Copa de 2014 e à Olimpíada de 2016, além de financiamentos já aprovados para a Gol e para a TAM. "Temos esperança de que possamos utilizar este US$ 1 bilhão para projetos de infraestrutura para a Copa e para a Olimpíada apenas como porta de entrada para as empresas brasileiras."