Título: Brasil não tem de focar comércio país a país
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2011, Economia, p. B1

Secretário de Obama diz que Brasil tem superávit total, mesmo com a Ásia, e não deve reclamar de déficit com os EUA

Gary Locke, secretário de Comércio dos Estados Unidos

O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Gary Locke, disse ontem que "o Brasil tem de olhar para (os resultados) do comércio com o mundo, e não país a país". É uma resposta às críticas de autoridades e empresários brasileiros, insatisfeitos com o déficit de US$ 7,7 bilhões registrado com os americanos no ano passado. O Brasil representa o quinto maior superávit dos Estados Unidos no mundo. Em entrevista ao Estado, o secretário lembrou, no entanto, que o Brasil tem superávit com a China, enquanto os Estados Unidos amargam déficit nessa relação.

Locke abandonou a comitiva de Obama, que seguiu para o Chile, para reuniões, hoje, com empresários em São Paulo. Ele demonstrou boa vontade para derrubar as barreiras contra a carne bovina e o etanol, mas não deu indicações concretas.

Defendeu que, antes da queda de barreiras e acordos de livre comércio, há passos "intermediários" a dar, que podem facilitar a vida das empresas dos dois países. Citou, como exemplo, o acordo de bitributação entre Brasil e EUA, que está em discussão há dez anos e evitaria que as empresas que atuam nos dois países paguem impostos dobrados. A seguir, trechos da entrevista:

Em suas reuniões com autoridades do governo e empresários, o senhor ouviu muitas reclamações sobre o superávit dos Estados Unidos com o Brasil. Como o sr. responde a isso?

O mais importante é olhar o crescimento do comércio total do Brasil com o mundo inteiro. O Brasil tem um superávit importante, por exemplo, com a Ásia. Em realidade, tem um superávit importante com o restante do mundo. O Brasil está crescendo e fornecendo não apenas commodities, mas também produtos avançados, como aeronaves. Nas reuniões ontem, o ministro Palocci (Antonio Palocci, chefe da Casa Civil) já havia indicado que o Brasil tem de focar no comércio com todo o mundo, e não país a país.

Brasil e Estados Unidos assinaram um Tratado de Cooperação Econômica e Comércio (Teca). Existe disposição para um verdadeiro acordo de livre comércio?

Há muitos passos antes de um acordo de livre comércio. A assinatura do Teca ontem (sábado)foi um grande passo. Outro passo intermediário é o acordo de bitributação. Acordos de livre comércio são muito difíceis de negociar, e, às vezes temos de adotar outras medidas com benefícios significativos para as empresas brasileiras e americanas.

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