Título: Serenidade de Tombini na avaliação da conjuntura
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2011, Economia, p. B1
Ao comparecer perante a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, procurou mostrar que a política de metas de inflação continua, enquanto as medidas macroprudenciais são para garantir a solvência, solidez e estabilidade do Sistema Financeiro Nacional. Tirou, assim, as dúvidas criadas pelo parágrafo 31 da última Ata do Comitê de Política Monetária (Copom), interpretado, em certos meios, como indicador de uma mudança na política monetária.
O presidente do BC foi realista ao reconhecer o impulso inflacionário, cujas fontes externas e internas analisou em profundidade, sem deixar de proclamar que, no final do ano, espera ver a inflação se aproximar da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Além da fala, que preencheu dez páginas, Tombini ofereceu à comissão uma série de indicadores econômicos em 93 páginas, com previsões interessantes: crescimento de 4,5% do PIB neste ano; investimentos 7,4% maiores que no ano passado, quando já haviam crescido 21,9%; e desemprego de 6,1% em 2011, com criação de 2,179 milhões de empregos formais.
O presidente do BC considera que "o setor de varejo é talvez o que melhor expressa o atual momento da economia" e acrescenta que "é importante suavizar o ritmo de crescimento da demanda para que sejam contidas pressões sobre os preços". Analisa com grande cuidado os fatores externos (excesso de liquidez, alta dos preço das commodities, recuperação econômica desigual no mundo) e os fatores internos (elevação dos rendimentos reais, nível de emprego, insuficiência de produtividade do setor dos serviços) que alimentam a onda inflacionária.
Ao mostrar que as reservas internacionais do País representam apenas 15% do PIB, Tombini escamoteia o problema principal nessa esfera, que é o custo da manutenção dessas reservas - que, segundo ele mesmo, vão continuar crescendo. Esse custo certamente representa mais um fator inflacionário. Ele parece não duvidar do sucesso do governo na redução do déficit público, mas muitos analistas não acreditam que os gastos do setor público sejam de fato cortados.
Tombini deixou uma mensagem final ao afirmar que o BC estará sempre avaliando se há necessidade de medidas "macroprudenciais" adicionais.
Não foi um discurso ufanista, mas de um técnico de alto nível decidido a analisar com calma a evolução da conjuntura e pronto a adotar novas medidas para recolocar a inflação no rumo da meta prevista.