Título: Aumento do depósito compulsório já tirou R$ 78 bi da economia
Autor: Cardoso, Daiene
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2011, Economia, p. B6

Compulsório maior faz parte da estratégia do BC de combater a inflação usando menos o recurso da taxa de juros básica

O aumento nas alíquotas de recolhimentos compulsórios dos bancos determinado pelo Banco Central em dezembro já retirou de circulação da economia brasileira um volume de quase R$ 78 bilhões. Segundo dados do próprio Banco Central, com a adoção das chamadas medidas macroprudenciais, o estoque de recursos que os bancos são obrigados a deixar parado junto à autoridade monetária cresceu R$ 77,64 bilhões em comparação com novembro, mês imediatamente anterior ao anúncio das medidas.

A elevação dos compulsórios dos bancos promovida no início de dezembro faz parte da estratégia do BC de combater a inflação usando menos o recurso da taxa de juros básica, a Selic, que é uma das maiores do mundo e onera a dívida pública. A autoridade monetária, na ocasião, elevou de 15% para 20% a alíquota do compulsório sobre depósitos à prazo (como CDBs) e de 8% para 12% na chamada exigência adicional, que incide sobre depósitos à prazo, à vista e poupança. Quando anunciou as medidas, o BC estimava retirar de circulação cerca de R$ 61 bilhões. No entanto, o resultado efetivo superou a previsão: só no primeiro mês saíram da economia cerca de R$ 65 bilhões da economia.

Agora, o estoque já encosta em R$ 78 bilhões acima da posição de novembro. É natural que com o passar do tempo o saldo de compulsórios cresça, diante do fato de que a economia se expande, gera mais empregos, renda e, consequentemente, dinheiro depositado nos bancos (que parcialmente terão de ser recolhidos para o BC, sem poder se tornar crédito). Mas o crescimento do estoque até março é mais veloz do que indicaria o nível de atividade do País.

Intervenções. Segundo Carlos Thadeu de Freitas ex-diretor do BC, a explicação para esse crescimento mais forte se justifica pela política agressiva de intervenções da autoridade monetária no mercado de câmbio.

Ao comprar dólares, o BC dá reais em troca aos bancos, que podem ser aplicados pelas instituições em CDBs ou outros instrumentos financeiros sobre os quais incidem os recolhimentos obrigatórios. Além disso, explica Freitas, as intervenções também favorecem uma maior sobra de dinheiro para as empresas, que acabam por buscar alternativas de investimentos - algumas sujeitas ao recolhimento.

Para Freitas, a estratégia do BC de aumentar recolhimentos é mais saudável do que simplesmente subir os juros para conter a inflação. Segundo Freitas, ao subir a Selic, há um aumento no custo da dívida, enquanto o compulsório não impõe custos adicionais ao governo.

Ele avalia que ainda há espaço para aumento de alíquotas desse recolhimento e os depósitos à vista (conta corrente) deveriam ser prioridade, pois não geram custo ao BC.

O economista do BES Investimento Flavio Serrano também considera que a política de intervenções no câmbio é provavelmente o fator que afetou para cima o nível de recolhimento compulsório. "Em janeiro e fevereiro, o BC foi bastante agressivo na compra de dólares e isto tem impacto na oferta de reais."