Título: Matéria-prima subiu mais no início do ano
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2011, Economia, p. B1

Os preços no atacado das matérias-primas usadas pela indústria subiram no ano, até março, quase 3%, cerca de um terço da alta de 8,8% registrada nos últimos em 12 meses, apontam os dados do Índice de Preços por Atacado (IPA) da Fundação Getúlio Vargas.

"Há uma aceleração maior nos preços das matérias-primas usadas pela indústria neste início de ano", observa o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. O grupo matérias-primas para manufatura é um bom termômetro de custos da indústria porque reúne preços de diversos setores, como siderurgia, metais, resinas plásticas, produtos químicos e embalagens de papelão, entre outros.

No caso das embalagens de papelão, o reajuste captado pelo IPA no ano até este mês é muito pequeno (0,16%), perto da variação das resinas plásticas no mesmo período (5,02%). Mas já há sinalizações de alta no mercado.

"Vamos precisar aumentar entre 6% e 7% os preços das embalagens de papelão ondulado em abril ou maio. Se não fizermos, vamos ter um buraco", conta Sérgio Amoroso, presidente do Grupo Orsa, uma das gigantes do setor. Ele explica que, apesar dos aumentos de custos de mão de obra (7,5%), energia (11%) e frete (15%), ele vinha mantendo os preços das embalagens porque a cotação da apara, insumo básico, tinha recuado. Mas, nos últimos meses, pressionada pelo alta nos preços da mão de obra para catar, separar e transportar o produto, a cotação da apara saiu de R$ 300 e foi para R$ 400 a tonelada, e forçou a necessidade de reajustes das embalagens.

Quadros, da FGV, diz que é pouco provável que esses aumentos de custos nas etapas de produção da indústria se transformem em inflação para o consumidor. O economista aponta dois fatores que ajudam a segurar o repasse. O primeiro é a forte concorrência dos produtos importados. O segundo fator é que a indústria vem de uma fase de recuperação de preços, depois do baque sofrido com a crise financeira internacional.

Portanto, as empresas ainda teriam algum fôlego para absorver aumentos sem repassá-los. "Só a partir do segundo semestre de 2010 os preços das matérias-primas começaram a se equiparar aos níveis pré-crise."

Competitividade. Braulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, observa que é difícil afirmar que há redução de competitividade na indústria em razão de aumentos de custos porque não se sabe ao certo o tamanho das margens. Ele lembra que na crise de 2008, mesmo com o recuo dos preços das matérias-primas, as indústrias não reduziram o preço ao consumidor.

Além da competição dos importados, Borges acrescenta outro fator que, na sua opinião, estaria inibindo os repasses: ritmo menor de crescimento do consumo interno. No primeiro bimestre deste ano, a demanda interna percebida pela indústria de bens de consumo caiu 2,5% ante o último trimestre de 2010, descontado o efeito sazonal, diz a FGV.