Título: Brasil pode ter fuga de investidores do Japão
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2011, Economia, p. B16
Os investidores estrangeiros nunca tiveram uma participação tão alta na dívida pública brasileira. Em janeiro, respondiam por 12% do total, ou US$ 108,6 bilhões (R$ 182 bilhões). O mercado estima que cerca de metade desse dinheiro esteja nas mãos de japoneses. Procurado, o Tesouro Nacional disse que não sabe informar o dado exato.
Se esses recursos forem resgatados pelos investidores para ajudar na reconstrução do país asiático, que teve áreas devastadas por um forte terremoto e um tsunami, o impacto pode ser significativo no mercado de câmbio. Os bancos, no entanto, ainda não sabem avaliar se a repatriação será significativa ou quando vai começar.
"Algum efeito vai ocorrer, mas ainda não sabemos a extensão. Nesse momento, os japoneses estão mais preocupados com questões básicas de sobrevivência. Só depois é que vão tratar de seus investimentos", diz Denise Pavarina, diretora-superintendente da Bradesco Asset Management (BRAM). O banco administra três fundos voltados para investidores japoneses.
Nos últimos três anos, os estrangeiros ganharam um espaço importante no mercado financeiro do Brasil.
Em janeiro de 2007, os investidores internacionais respondiam por apenas 0,88% da dívida brasileira, o equivalente a R$ 9 bilhões. De acordo com especialistas e fontes de bancos, os asiáticos foram os grandes responsáveis por essa mudança no mercado brasileiro.
Existem, atualmente, 19 fundos de renda fixa no Japão especializados em ativos em reais, com aplicações que somam US$ 27 bilhões. A maior parte do dinheiro é de pessoas físicas, que preferem investir suas economias fora do Japão, onde a taxa de juros é zero.
Depois de obter a classificação de "investment grade", o Brasil, tornou-se um dos destinos preferidos, porque paga juros altos, o que torna a aplicação vantajosa.
Financiadores. Os japoneses também se tornaram os principais financiadores das empresas brasileiras que buscam dinheiro no exterior. Conforme o Banco Central, no ano passado, investidores do Japão adquiriram 39,8% das debêntures de médio e longo prazo emitidas pelo setor privado brasileiro, o equivalente a US$ 9,16 bilhões.
Pedro Bastos, principal executivo da área de administração de recursos no HSBC no Brasil, não acredita em um impacto significativo da tragédia nos recursos investidos no Brasil. "Os investidores japoneses vão retirar dinheiro investido em renda variável, nos países desenvolvidos, que ainda representam um maior risco. Só por último repatriariam dinheiro do Brasil, que paga dividendos altos", afirmou Bastos.
IOF. O fluxo de entrada dos investimentos já havia sido interrompido nos último trimestre do ano passado, depois que o governo elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para 6%. Na avaliação de Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria, o impacto da tragédia no Japão para o mercado de câmbio brasileiro não será significativo.
"Boa parte das aplicações de estrangeiros no Brasil não são necessariamente japonesas, mas fundos de investimento e bancos que fazem operações de carry trade. Também tem muito investimento de médio e longo prazo devido a grande atratividade do Brasil", disse Blanche. "Além disso, o Banco Central do Japão já colocou muito dinheiro a disposição dos japoneses", concluiu.
Para Pedro Guerra, diretor executivo de produtos transnacionais do Citibank, o impacto, se houver, só vai ser perceptível em três meses, quando as pessoas físicas precisarem de dinheiro para, por exemplo, comprar uma nova casa.
"Mas a probabilidade é baixa, porque muitos fizeram seguro ou terão ajuda do governo", afirma Guerra.