Título: Proteção de Mantega não impediu queda
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2011, Economia, p. B1

Para atenuar impacto da demissão da presidência da Caixa, Maria Fernanda Coelho foi convidada a ser a representante do Brasil no BID

Ed Ferreira/AE-16/11/2010De saída. Fernanda não aceitou a nomeação de Geddel Vieira Lima para a diretoria da Caixa e entrou em colisão com Palocci A queda da presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Maria Fernanda Ramos Coelho, tem forte ingrediente político e vai além do episódio do banco Panamericano. Maria Fernanda entrou em rota de colisão com o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, por causa do aliado PMDB. Apesar de protegida pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, não resistiu à pressão.

Palocci sempre defendeu o cumprimento do acordo que contemplava o PMDB na Caixa, mas Maria Fernanda não aceitava a ideia de ter o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima na vice-presidência do banco. Na luta contra Geddel, ela contou com o apoio do governador da Bahia, Jaques Wagner (PT) - desafeto do peemedebista -, mas acabou perdendo a queda de braço.

Desde que estourou o escândalo do Panamericano, Mantega fez de tudo para preservar a presidente da Caixa. A avaliação no Palácio do Planalto foi a de que ela não teve culpa pela compra de parte do encrencado banco pela Caixa, no ano passado. Maria Fernanda foi contra a operação - que envolveu Silvio Santos, ex-controlador do Panamericano - , mas o negócio acabou bancado por Mantega.

De lá para cá, o desgaste da executiva só piorou. Após concordar com a permanência de Maria Fernanda na Caixa, Palocci percebeu que ela dava sinais cada vez mais fortes de incômodo com o anúncio da nomeação de Geddel. O chefe da Casa Civil avisou-a que, se ficasse, teria de aceitar Geddel na Diretoria de Pessoas Jurídicas. Além disso, não poderia pedir para sair logo depois porque provocaria uma crise política com o PMDB.

Mantega articulou a solução para atenuar o impacto da queda de Maria Fernanda: ela foi convidada para ser representante do Brasil no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O convite foi feito pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior.

Apadrinhado. Na prática, a nomeação de Geddel atendeu a forte pressão do PMDB, que mobilizou até o vice-presidente, Michel Temer, padrinho do ex-ministro. Irritado com a demora na nomeação, porém, o PMDB chegou a oferecer outro nome para a diretoria da Caixa, desde que Geddel fosse para um ministério. Palocci não concordou. Para evitar constrangimentos políticos, Maria Fernanda justificou o pedido para sair como sendo de ordem pessoal.

Temer queria que Geddel assumisse a vice-presidência de fundos e loterias da Caixa, cadeira que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ao PMDB, quando o partido passou a integrar oficialmente o governo. À época, Lula nomeou para a função o ex-deputado Moreira Franco, que, ao lado de Geddel, comandou o núcleo de oposição à gestão petista no primeiro mandato (2003 a 2006). Os dois aderiram ao governo após ganharem cargos importantes. Moreira foi para a Caixa e Geddel recebeu a Integração Nacional.

Geddel sempre encabeçou as listas entregues pelo PMDB à presidente Dilma Rousseff e a Palocci com os nomes selecionados pelo partido para o segundo escalão. Dilma, no entanto, não quis puxá-lo para a vice-presidência de fundos e loterias. A vaga ainda está aberta.

Agora, o PMDB quer emplacar em outra diretoria da Caixa o ex-governador José Maranhão. Há, porém, resistência de ministros próximos a Dilma, além da pressão do PSB, partido do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, adversário de Maranhão. Coutinho acusa Maranhão de ter quebrado o Estado e estourado as metas exigidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal para a folha salarial do funcionalismo.

O ex-governador de Goiás Íris Rezende também faz parte da lista de nomes que o PMDB quer empregar no governo. Rezende pode ocupar a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco). A recriação da autarquia já foi aprovada pelo Congresso, mas Dilma ainda não assinou o decreto que determinará a instalação da estatal. A nomeação de Íris para a Sudeco tem a simpatia tanto de Palocci quanto de Dilma.

PARA LEMBRAR

Panamericano abalou imagem da executiva

Maria Fernanda Coelho deixa a presidência da Caixa Econômica Federal com a imagem desgastada pela desastrosa compra do Panamericano. Em novembro de 2009, a Caixa pagou R$ 740 milhões por 49% do capital votante do banco que pertencia a Silvio Santos. Na época, a operação causou polêmica, já que rumores sobre a solidez da instituições corriam há tempos no mercado financeiro.

A suspeita acabou se confirmando no ano passado, quando descobriu-se um rombo de mais de R$ 4,3 bilhões no Panamericano - mascarado por fraudes na contabilidade. O banco só não quebrou porque foi salvo pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e vendido a preço de ocasião ao BTG Pactual, do banqueiro André Esteves.