Título: Vale deve substituir Bertin em Belo Monte
Autor: Tereza, Irany ; Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2011, Economia, p. B5

Mineradora vai investir R$ 2,3 bi por 9% da usina; ação é uma espécie de resposta de Roger Agnelli ao processo de fritura que vem sofrendo

A Vale deve anunciar nos próximos dias a sua entrada no projeto da hidrelétrica de Belo Monte como autoprodutor, com 9% do empreendimento. Substituirá a Gaia, do grupo Bertin, que deixa o negócio. A participação da mineradora, que corresponderá a cerca de R$ 2,3 bilhões, será uma espécie de resposta do presidente da empresa, Roger Agnelli, ao processo de "fritura" que vem sofrendo, com a pressão do governo por uma sucessão no comando da Vale.

Segundo fontes ouvidas pela Agência Estado, o compromisso teria sido selado ontem, em uma reunião na sede da empresa, no Rio, entre Agnelli e representantes do consórcio Norte Energia, responsável pelo projeto. A obra deve contar com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de, pelo menos, R$ 19,6 bilhões.

A hidrelétrica de Belo Monte é obra prioritária do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a saída do grupo Bertin, anunciada em fevereiro, por falta de fôlego financeiro para acompanhar o investimento, representou um baque significativo no projeto.

Belo Monte, que será construída no rio Xingu, está orçada em torno de R$ 25 bilhões e este mês o consórcio Norte Energia obteve autorização para começar a montar o canteiro de obras.

O projeto tem, necessariamente, de ser integrado por autoprodutores (que participam da obra para obter energia para seus próprios investimentos), com uma parcela de 10%. Um pequeno grupo siderúrgico instalado no Pará, a Sinobras, detém 1%.

Com a saída da Gaia - que integrou o consórcio às vésperas do leilão, depois de intensa campanha do governo - chegou a ser negociado o rateio dos 9% entre quatro empresas. Além da Vale, foi cogitada a entrada da Gerdau, Votorantim e Alcoa. Participam do consórcio Norte Energia a Eletrobras, Chesf, Eletronorte, Bolzano Participações, Caixa Cevix, Funcef e Petros.

A entrada isolada da Vale ocorre num momento em que Roger Agnelli sofre forte pressão em torno da sua permanência no cargo. O mandato do executivo, que termina em abril, teve um termo aditivo assinado no ano passado, estendendo o período até o fim de 2012. Mas, os acionistas (Previ, Bradespar, BNDESPar e Mitsui) estariam dispostos a cumprir as cláusulas indenizatórias para efetivar a substituição.

Na última terça-feira, notícia veiculada pelo Estado informou sobre um encontro em São Paulo entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do conselho de administração do Bradesco, Lázaro Brandão, para discutir a substituição do executivo.