Título: Protesto acaba em violência em Bruxelas
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2011, Economia, p. B10

Manifestação contra programas de austeridade reuniu entre 20 mil e 30 mil de euros

Canhões de água, barricadas, tropas de choque e troca de hostilidades. As imagens, comuns no norte da África e no Oriente Médio recentemente, se repetiram ontem na capital da União Europeia, Bruxelas.

Entre 20 mil e 30 mil manifestantes, de acordo com as versões da polícia e de organizações sindicais, se reuniram no centro da metrópole para aproveitar a presença de chefes de Estado e de governo da Europa e protestar contra os programas de austeridade, que derrubaram o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, na quarta-feira.

O choque violento entre manifestantes e policiais foi visto durante a Euromanif, um protesto previsto para ser realizado em paralelo à reunião de cúpula do Conselho Europeu. Os incidentes ocorreram junto ao Boulevard du Régent e a Rue de la Loi, um dos cruzamentos mais importantes de Bruxelas. Vitrines de lojas e prédios de escritórios foram depredados, e a polícia foi atacada com garrafas e pedras arrancadas do calçamento. A tropa de choque respondeu com canhões de jatos d"água contra a multidão.

Para Anne Demelenne, secretária-geral da Federação Geral do Trabalho da Bélgica (FGTB), os protestos marcam a volta das atividades sindicais às ruas contra o recuo da proteção social na Europa.

"Nós estamos de volta", afirmou ao jornal belga Le Soir, dizendo-se pronta para lutar contra os partidos de direita "que organizam o recuo social". "É preciso solidariedade com os países em dificuldade em razão dos mercados financeiros. Mas isso não deve servir de pretexto para moderar os salários, as pensões e os nossos sistemas de proteção social", argumentou.

Já a Federação das Empresas da Bélgica (FEB) recriminou a violência dos protestos. "Eu compreendo que haja uma inquietude entre os trabalhadores", afirmou Pierre Alain De Smedt, presidente da organização. "Mas talvez tenha sido exagerado na forma", reclamou.

Entre os belgas, a Euromanif também dividiu opiniões. Segundo sondagem do jornal Le Soir, 52% dos leitores "compreendiam as razões da manifestação" e 48% as consideravam inexplicáveis.