Título: Fala de Tombini derruba juros futuros
Autor: Dantas, Fernando ; Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2011, Economia, p. B7

Mercado entendeu que indicações do presidente do BC de restrições ao crédito significam um novo pacote de ""medidas macroprudenciais""

As declarações do presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, sobre limitar o crescimento do crédito na economia brasileira ao intervalo entre 10% a 15% ao ano derrubaram os juros futuros ontem. O crédito está crescendo a um ritmo anual de 20%.

A interpretação do mercado é de que as afirmações são a senha para um novo, e poderoso, pacote de "medidas macroprudenciais" - isto é, que aumentam exigências de capital ou compulsórios, tornando o crédito mais caro, e esfriando a economia. Como as medidas macroprudenciais viriam no lugar de altas mais drásticas da Selic (taxa básica), os juros futuros caíram.

"O mercado indicou algum tipo de informação ou a crença de que virão medidas macroprudenciais muito fortes", disse o economista-chefe de uma importante instituição financeira.

Ele considera a reação dos juros futuros ainda mais significativa diante da divulgação ontem do IPCA-15 de 0,6%, acima das expectativas, entre 0,5% e 0,55%. "O normal seria que os juros futuros subissem", analisou.

Um ex-diretor do BC acrescentou que, pela ata da última reunião do Copom, e pelas declarações de Tombini, está claro que o BC não elevará a Selic em mais do que 0,5 ou 0,75 ponto porcentual nas próximas reuniões (hoje está em 11,75%).

Mas ele nota que a inflação anualizada implícita nos títulos pós-fixados subiu. A inflação embutida na NTN-B (atrelada ao IPCA), vencendo em agosto de 2012, subiu de 5,98%, na terça-feira, para 6,06% ontem.

O ex-presidente do BC Arminio Fraga, hoje à frente da Gávea Investimentos, não vê a vinculação entre aperto nas medidas macroprudenciais e um relaxamento excessivo do ciclo de alta da Selic. Ele ressalva que, "como os dois (instrumentos) estão alinhados neste momento, o uso de um pode exigir menos do outro". Porém, para Fraga, isso é diferente de imaginar que o BC vá relutar em utilizar a alta da Selic para combater a inflação.

"Muita gente acha que o BC está olhando para isso (medidas macroprudenciais) porque não quer mexer na taxa de juros, mas não tenho essa posição." Ele acha importante o controle do crédito por questões prudenciais mesmo, para evitar excessos.

Demanda por crédito. Apesar de todas as medidas já tomadas pelo Banco Central (BC) para esfriar o consumo, os brasileiros continuam procurando crédito praticamente no mesmo ritmo do ano passado e uma taxa de crescimento neste ano acima do teto de 15% considerado como "adequado" por Tombini.

No primeiro bimestre deste ano, o Indicador Serasa Experian de Demanda do Consumidor por Crédito cresceu 16,3% em relação ao mesmo período de 2010, depois de ter encerrado o ano passado com alta de 16,4% na comparação com 2009.

O indicador, de âmbito nacional, é calculado com base nos CPFs (Cadastro de Pessoa Física) consultados para vendas a prazo. Essas vendas podem se concretizar ou não. Mas, segundo o gerente de Indicadores de Mercado da Serasa Experian, Luiz Rabi, o resultado dá uma boa pista do comportamento da demanda por crédito, não do volume de crédito concedido.

Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi, entidade que reúne as financeiras, não dispõe de dados sobre a procura do consumidor por crédito. Mas, com base em relatos dos executivos do setor, é possível constatar que em janeiro houve arrefecimento na procura em razão das restrições impostas pelo BC em dezembro, especialmente para veículos. Em fevereiro, no entanto, por causa das promoções, o crédito voltou a se acelerar.

De toda forma, ele observa que em janeiro a projeção de crescimento do crédito para este ano era de 12%. Diante da mudança que houve em fevereiro, a perspectiva é de que a taxa de crescimento esteja hoje em 15% na comparação anual. / COLABOROU PATRICIA LARA

Ponto de vista

ARMINIO FRAGA EX-PRESIDENTE DO BC

"Muita gente acha que o BC está olhando para isso (medidas macroprudenciais) porque não quer mexer nos juros, mas não tenho essa posição."

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