Título: Cúpula da Vale estuda saída para sucessão
Autor: Tereza, Irany ; Bresciani, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2011, Economia, p. B9

Acionistas temem que indefinição sobre a saída de Roger Agnelli traga prejuízos para a empresa

A eventual substituição de Roger Agnelli na presidência da Vale não será referendada na Assembleia-geral Ordinária de acionistas da empresa marcada para 19 de abril. O assunto não consta na pauta e, depois do vazamento do encontro entre Guido Mantega com o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão, noticiado pelo "Estado", os acionistas da mineradora discutem a melhor estratégia para a mudança no comando sem maiores prejuízos à empresa.

Na terça-feira, o mercado recebeu mal a notícia do encontro ocorrido na sexta-feira e as ações da mineradora fecharam em queda na Bovespa.

Ontem, dia em que foi anunciado o convite para que o ministro compareça à Câmara, as ações fecharam em alta de 1,48% (PN) e 1,50% (ON), bem acima dos 0,32% do Ibovespa.

Para interlocutores, Agnelli teria reiterado a intenção de persistir em campanha por sua permanência no cargo. "Enquanto puder, ele vai continuar", diz uma fonte.

Os controladores da Vale - Bradesco, Previ, BNDESPar e Mitsui - ainda não chegaram a um consenso sobre o nome do substituto. Tentam uma solução que contemple uma transição tranquila para o mercado.

O mandato de Agnelli, que terminaria em abril, foi prorrogado no ano passado, por meio de acordo. Mas esses termos não são vistos como empecilho. A vigência poderia ser dada por encerrada e cumpridas as cláusulas sem maiores consequências.

A questão está encontrar um executivo com perfil técnico e respaldado para sucede-lo. Nesse contexto, o nome de Antonio Maciel Neto, da Suzano, que havia sido ventilado nas últimas semanas, voltou a ganhar força. A hipótese mais provável é que o sucessor de Agnelli venha de fora dos quadros da empresa. A solução interna, que ainda não está totalmente descartada, seria a do diretor José Carlos Martins, mas não é a mais cogitada.

Mantega. A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados aprovou ontem o convite para que o ministro Guido Mantega compareça à Casa para dar explicações sobre a suposta interferência do governo na Vale. Como é convidado, Mantega não é obrigado a comparecer. Ainda não há data para uma possível audiência.

O requerimento é de autoria do deputado Mendonça Filho (DEM-PE) e pretendia a convocação do ministro. Por acordo, porém, optou-se por se fazer um convite. Mendonça Filho saiu em defesa do presidente da empresa, Roger Agnelli, que estaria sobre pressão do governo para deixar o comando da mineradora.

"A Vale é um orgulho para o País pela excelente gestão que a colocou entre as maiores empresas privadas do mundo. O seu presidente vai ser condenado pela sua capacidade de trabalho demonstrada até agora?", questionou.

O deputado criticou o governo por querer "interferir" em uma empresa privada. "A Vale é a maior empresa privada do Brasil, a segunda mineradora do mundo. A interferência do governo é inaceitável. Não bastasse o PT aparelhar o governo, as estatais e tomar de conta dos fundos de pensão, agora quer se meter nas empresas privadas''.

O tema pode ser discutido também em outra comissão. José Otávio Germano (PP-RS) apresentou requerimento também solicitando a presença do ministro da Fazenda na Comissão de Minas e Energia. Nesta comissão, porém, ainda não houve votação do requerimento.