Título: Grécia quer tapar rombo com dinheiro de mortos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2011, Economia, p. B13

Arrecadação não cresce no ritmo que governo previa e são necessários novos cortes no orçamento, mas ministérios começam a reagir ao arrocho

Uma autoridade da Grécia admitiu que "a arrecadação de impostos não está ocorrendo como se esperava, portanto o governo buscará outras formas para fechar o rombo" do orçamento. "Buscar os fundos de heranças não reclamadas e de contas bancárias de pessoas que morreram há tempos é algo que está sendo considerado", ele acrescentou.

"Um imposto sobre os refrigerantes também está sendo seriamente estudado." Os ativos não reclamados dos falecidos, alguns dos quais estão num limbo legal há décadas, podem representar 4 bilhões em receita para o Estado, disse a autoridade. Mas, ao fazer isso, o governo também enfrenta o aumento da resistência dentro do próprio governo, na comunidade empresarial e no público em geral.

Alguns ministros resistem em aceitar mais cortes de gastos, afirmando que novas reduções em seus orçamentos podem colocar os serviços sociais em sério risco. Em particular, os ministros da Educação e da Ordem Pública estão se opondo fortemente a qualquer corte adicional, enquanto os ministros do Trabalho, da Saúde e da Agricultura pediram que as metas de gastos sejam afrouxadas.

"A defasagem na arrecadação não é irreversível, mas será preciso esforço para atingir as metas e não há garantias de que seremos bem sucedidos. Estamos enfrentando um monstro", disse a autoridade.

Credores. Antes da visita dos credores internacionais ao país na próxima segunda-feira, o governo luta para encontrar mais 22 bilhões em cortes adicionais de gastos e medidas fiscais para os próximos três anos, conforme o prometido no pacote de 110 bilhões acertado pelo governo com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional em maio passado.

Pelo acordo, o governo deve apresentar um pacote até o fim deste mês, que deve ser adotado formalmente pelo gabinete até meados de abril para ser transformado em lei até meados de maio.

"Cerca de 15 bilhões poderiam vir de cortes de gastos e 7 bilhões de receitas extras. Ambos são muito difíceis", acrescentou. "Ministros e companhias do setor público estão sinalizando que qualquer corte adicional vai colocar em risco serviços básicos, enquanto há um claro entendimento no governo de que quaisquer outros impostos diretos vão realmente testar a aceitação social." O pacote em estudo pode incluir várias outras medidas. Entre elas, está a abolição de todos os incentivos fiscais para pessoas que ganham mais de 70 mil por ano, a eliminação das alíquotas mais baixas do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) nas ilhas dependentes de turistas da Grécia e elevação de pedágios rodoviários.

"As medidas têm o objetivo de nos colocar em linha com nossas obrigações junto aos credores e dar uma mensagem ao mercado para que os spreads (prêmios) dos bônus recuem", disse uma segunda autoridade. "Podemos dizer agora que é altamente improvável que vamos recorrer ao mercado de bônus com emissões de longo prazo em 2011 e, da forma como as coisas estão agora, parece também improvável que o façamos em 2012", disse. / DOW JONES NEWSWIRES