Título: Investimento externo já somou US$ 15 bi este ano
Autor: Graner, Fabio ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2011, Economia, p. B1

Na contramão dos ingressos de recursos no País para aplicações em ações e títulos de renda fixa, o Brasil recebeu de janeiro até ontem US$ 15 bilhões de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED). O volume surpreendeu o mercado e o governo, reforçando as suspeitas de que os investidores podem estar "driblando" via IED a cobrança do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) incidente nas aplicações financeiras dos estrangeiros em ações e títulos de renda fixa.

Enquanto os investimentos voltados para o setor produtivo estão bombando este ano, as aplicações externas em ações e títulos de renda fixa têm desempenho sofrível por conta da cobrança do IOF e da volatilidade no mercado internacional. Até ontem, os investimentos no País em ações somavam US$ 1,05 bilhão, e para títulos em renda fixa o Banco Central (BC) registrava saída de US$ 511 milhões.

Esses resultados fizeram o BC rever ontem as projeções de contas externas para 2011. Pelas novas estimativas, o Brasil deverá receber US$ 55 bilhões de IED em 2011, volume US$ 10 bilhões superior à previsão anterior. Por outro lado, o BC reduziu de US$ 40 bilhões para US$ 15 bilhões a estimativa de ingressos para investimentos estrangeiros em ações e renda fixa. A queda na projeção foi interpretada pelo mercado financeiro como um sinalizador de que o governo vai apertar ainda mais a tributação do IOF para reduzir o fluxo de dólares e combater a excessiva valorização do real frente à moeda norte-americana.

Se confirmada as estimativas do BC, os ingressos de IED vão bater novo recorde histórico. Em fevereiro, o fluxo desse tipo de recurso somou US$ 7,72 bilhões, o melhor resultado para o mês da série do BC, que teve início em 1947. No bimestre, esses investimentos somam US$ 10,63 bilhões. O País recebeu mais US$ 4,4 bilhões de IED em março até ontem. A previsão é de que esses investimentos devem fechar o mês em US$ 4,8 bilhões.

Para o chefe adjunto do Departamento Econômico (Depec) do BC, Túlio Maciel, o desempenho do IED mostra que as condições de financiamento do déficit em conta corrente brasileiro são favoráveis. Por isso, ele não vê com preocupação a redução da previsão de ingressos de investimentos em ações e títulos de renda fixa.

Drible. Maciel admitiu que o BC não tem controle não tem controle dos recursos de IED depois que eles entram no País. O Estado informou que fontes do governo estão preocupadas com a possibilidade de estrangeiros estarem utilizando IED para driblar a taxação do IOF sobre renda fixa e ganharem com o juro alto no País. Se confirmada tal suspeita, trata-se de fraude fiscal e cambial.