Título: Gasto em viagens ao exterior cresce 38%
Autor: Graner, Fabio ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2011, Economia, p. B1

Brasília

O gasto dos brasileiros com viagens ao exterior somou no primeiro bimestre o valor recorde de US$ 3,07 bilhões, volume 38,3% superior ao de igual período do ano passado. Já as receitas de estrangeiros que visitam o Brasil cresceram em ritmo mais lento no período (8,5%), o que fez o déficit na conta de viagens atingir o valor também recorde de US$ 1,91 bilhão no bimestre - alta de 66,7% sobre igual período do ano passado.

De olho nesses números, o governo resolveu aumentar a taxação sobre os cartões de crédito, que representam mais da metade dos gastos nessa conta.

Os crescentes rombos em viagens têm ajudado a impulsionar o déficit na conta de transações correntes do País - que registra as operações de comércio exterior e de serviços do Brasil com o exterior. Em fevereiro, a conta corrente apresentou saldo negativo recorde para o mês de US$ 3,39 bilhões. No bimestre, o déficit no principal indicador das contas externas brasileiras foi de US$ 8,8 bilhões, também recorde para o período.

Além do impacto negativo gerado pela conta de viagens, o chefe adjunto do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, avaliou que o resultado da conta corrente reflete de maneira mais geral os déficits na conta de serviços, que registra também gastos com transportes, aluguel de equipamentos, ambos recordes mensais, entre outros itens. Além disso, a conta de rendas, com as remessas de lucros e dividendos mais que dobrando no bimestre, também influenciou o saldo negativo da conta corrente.

Financiamento. Maciel avaliou que o crescimento da renda no Brasil, em ambiente de câmbio valorizado, favorece o aumento do déficit externo. Ele destacou, porém, que, apesar do resultado negativo da conta corrente, as condições de financiamento continuam muito favoráveis ao Brasil, já que os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) têm sido suficientes para cobrir o déficit e ainda há ingressos significativos de recursos por outras contas, como empréstimos tomados por empresas e bancos.

Apesar dos déficits recordes em transações correntes, o BC reduziu sua previsão de saldo negativo para este ano de US$ 64 bilhões para US$ 60 bilhões. Isso ocorreu, segundo o BC, por causa da melhora na expectativa de superávit na balança comercial, que passou de US$ 11 bilhões para US$ 15 bilhões.

Para o diretor de pesquisa da associação Brain e professor da FIA/USP, André Sacconato, a expectativa de déficit externo do BC está mais realista. Para ele, o nível esperado é plenamente financiável e sustentável. Em relação ao desempenho deficitário cada vez maior da conta de viagens, Sacconato salientou que o movimento reflete o aumenta da renda e o real valorizado ante o dólar, além da recessão dos países desenvolvidos, que torna os preços externos mais baratos.