Título: Plano abrangente de combate à crise é adiado
Autor: Netto, André
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2011, Economia, p. B15

Bruxelas

Líderes europeus aprovaram ontem o aumento de seu fundo de resgate financeiro para 440 bilhões em junho, mas evitaram discutir a crise de Portugal após a renúncia do primeiro-ministro do país. Os líderes haviam dito que aprovariam pacote abrangente para combater a crise de dívida da zona do euro até o fim de março, mas adiaram a decisão de ampliação da rede de segurança até meados do ano.

O acordo na cúpula de dois dias, em Bruxelas, foi aplaudido por Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, mas preocupações sobre Portugal pairavam sobre a reunião.

O premiê português José Sócrates renunciou na quarta-feira após o Parlamento rejeitar novas medidas de austeridade fiscal que, segundo o governo, impediriam que o país seguisse Grécia e Irlanda na necessidade de ajuda financeira da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Sócrates é o segundo líder da zona do euro vitimado pela crise de dívida. O primeiro-ministro da Irlanda deixou o governo em fevereiro. Apesar da renúncia, ele foi à cúpula e foi bem recebido por outros líderes, segundo diplomatas.

Sócrates resiste à pressão para aceitar um resgate e deixou claro que manterá essa posição ao menos até que um novo governo português seja formado, provavelmente após eleições antecipadas daqui a dois meses.

O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, disse ser crucial que Portugal siga as propostas de Sócrates, que afirmou a outros líderes que, independente de qual governo seja eleito, o programa de austeridade será mantido.

A crise portuguesa destaca a riqueza de obstáculos que o bloco europeu enfrenta para resolver a crise de dívida que piorou durante o último ano. Há alguns dias, esperava-se que a cúpula criasse um pacote completo para tranquilizar os mercados, mas as decisões ficaram abaixo do que alguns investidores esperavam. Autoridades da zona do euro disseram que Portugal pode precisar de até 80 bilhões em assistência do fundo de resgate europeu e do FMI.