Título: Portugal nega pacote de socorro de ¤ 75 bilhões
Autor: Netto, André
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2011, Economia, p. B15

Dois dias de pressões políticas da União Europeia não foram suficientes para dobrar a resistência do primeiro-ministro demissionário de Portugal, José Sócrates. À beira da bancarrota, o governo português não formalizou, como se esperava ontem, no segundo dia da reunião de cúpula de chefes de Estado e de governo da União Europeia, o pedido de socorro financeiro, condição obrigatória para um empréstimo. Os europeus propõem uma linha de financiamento de ? 75 bilhões para que Lisboa evite a bancarrota.

A resposta de Sócrates foi dada aos colegas de conselho na noite de ontem, em Bruxelas. "Portugal não precisa de um plano de socorro e eu vou manter essa posição para defender o meu país", disse o Premier. "Eu sei o que isso significou para a Grécia e a Irlanda, eu não desejo isso para o meu país."

Segundo o governo português, o país tem meios de resistir à pressão dos mercados até junho. Essa perspectiva assustou os parceiros da União Europeia, que em 2010 enfrentaram turbulências em função da demora para alcançar um acordo que resultasse no socorro das finanças gregas.

Ontem, Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro de Luxemburgo e coordenador do fórum de ministros de Economia da zona euro, reafirmou que o pacote de auxílio a Portugal está disponível, a espera de um pedido formal de Lisboa.

"Se houver necessidade de socorro, o guarda-chuvas que pusemos à disposição será suficiente", assegurou, referindo-se ao plano de socorro de ? 75 bilhões já elaborado pelo Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Fesf) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Caso o pedido se concretize, será inferior aos planos de socorro da Grécia, de ? 110 bilhões, e da Irlanda, de ? 85 bilhões.

Juros. A opção feita pelo governo português vai custar caro aos contribuintes. Ontem, os juros cobrados pelos investidores pelos títulos da dívida soberana de Portugal com validade de 10 anos chegou ao pico de 7,8%. Essa taxa prenuncia meses complicados para os portugueses, que devem reembolsar empréstimos avaliados em ? 4,5 bilhões em abril e em ? 4,9 bilhões em junho.

Já para a Europa, a crise de Portugal cai em um péssimo momento. A cúpula de Bruxelas deveria marcar o anúncio de um novo arsenal de medidas preventivas destinadas a aumentar o compromisso dos países-membros da zona euro com a estabilidade da moeda única. Novas regras para a elaboração de orçamentos estavam previstas em contrapartida à criação de um mecanismo permanente de socorro de ? 500 milhões. O novo mecanismo entrará em vigor em 2013.