Título: Algar desafia gigantes e amplia investimentos em telecomunicações
Autor: Scheller, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2011, Negócios, p. B20

Depois de assistir à dança das cadeiras do mercado de telecomunicações que concentrou ainda mais o mercado brasileiro nas mãos de poucos grupos, a Algar Telecom, parte do grupo mineiro de mesmo nome que também atua em TI, agronegócio e hotelaria, prepara-se para sair das sombras e dar passos além do Triângulo Mineiro, tradicional área de sua concessão. Para isso, praticamente dobrará investimentos em expansão em 2011.

Eugênio PacelliSucessão. Luiz Alexandre Garcia representa 3ª geração da família à frente do grupo Algar, fundado pelo avô Alexandrino O grupo Algar separou R$ 500 milhões para investir em 2011 - no ano passado, o valor foi de R$ 288 milhões. Cerca de 85% do total investido será revertido para as áreas de TI e telecomunicações, pilares do crescimento da companhia fora de Minas. O presidente executivo do Algar, Luiz Alexandre Garcia, afirma que a empresa quer crescer no terreno dos "pesos pesados" com uma oferta de telefonia e dados direcionada para pequenas e médias empresas em mercados como São Paulo, Paraná e Brasília.

Fundada há 57 anos, a Algar Telecom - conhecida como CTBC no Triângulo Mineiro - é fruto das concessões obtidas pelo avô de Luiz Alexandre, Alexandrino, em Uberlândia e região. A empresa sobreviveu à estatização do setor, com a criação do sistema Telebrás, mantendo suas concessões, e arriscou um salto de escala em 1998, na privatização. Ficou com a banda B no Rio de Janeiro e no interior de São Paulo, transformadas nas operadoras ATL e Tess, posteriormente repassadas à América Móvil e rebatizadas Claro. "Fomos vítimas das crises da Ásia e da Rússia", lembra Garcia.

Depois de passar cerca de uma década reorganizando a casa após os prejuízos, a Algar voltou a planejar uma aventura além de seu território conhecido, ao adquirir a concessão para da banda H de telefonia celular em uma área de Minas Gerais contígua aos seus tradicionais mercados. Além disso, adota um estilo "formiguinha" em outros Estados, para conquistar as médias empresas. Em vez de promover campanhas de marketing para fazer sua marca conhecida, a Algar patrocina eventos corporativos e aborda essas empresas oferecendo "combos" de telefonia, internet e armazenamento de dados. "Nosso diferencial é o serviço. Queremos crescer no boca a boca", diz o presidente do grupo.

Estratégia. Para Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, especializada no setor de telecomunicações, a empresa tem se mostrado capaz de "se defender" das gigantes em sua área de atuação, mostrando-se capaz de se adequar a um cenário mais competitivo. Os números da consultoria mostram que a CTBC contabilizava 621 mil linhas fixas em operação no 4.º trimestre do ano passado. A empresa não cresce, mas também não perde espaço: há tempos, sua fatia de mercado é constante em 1,5%.

O especialista afirma que uma atuação fora de nichos específicos parece fora de questão - até por conta das feridas que a Algar carrega das experiências do passado. Tude diz que o grupo mineiro não tem o fôlego da GVT, que dobrou sua fatia no mercado de telefonia fixa em menos de dois anos, atingindo 5,4% de participação no 4.º trimestre do ano passado - no meio do caminho, a empresa foi comprada pela francesa Vivendi, após disputa com a Telefônica, no fim de 2009.

Entretanto, por ter capital privado, Tude diz que a Algar fica livre das amarras de outra "nanica" do setor, a Sercomtel, que atua na região de Londrina (PR). A empresa, também sobrevivente da era pré-Telebrás, tem 0,4% de participação no mercado - menos de um terço do tamanho do grupo mineiro. "A Algar tem uma tradição de inovação, e aposta nisso para voltar a sair de sua área original, desta vez com uma estratégia de nicho."