Título: IGP-M cai a 0,62% e FGV vê cenário de desaceleração
Autor: Leonel, Flavio
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2011, Economia, p. B4

Preços agropecuários reduziram índice de março, que ficou bem abaixo do de fevereiro, de 1%

O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) subiu 0,62% em março, informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV). O resultado ficou abaixo do de fevereiro (de 1%) e dentro das estimativas coletadas pelo serviço AE Projeções, da Agência Estado, com os economistas do mercado financeiro, que previam de 0,54% a 0,78%. No acumulado de 12 meses, a taxa também desacelerou, de 11,3% para 10,95%.

Um cenário de desaceleração do IGP-M, mesmo que de maneira lenta, deve ser visto com mais frequência do que um movimento contrário nos próximos meses, apesar das dificuldades para uma previsão exata do comportamento da inflação.

A avaliação é do coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. Em entrevista, ele disse que mantém a expectativa que o IGP-M acumulado em 12 meses seja, no fim de 2011, menos expressivo que o de 2010, quando foi de 11,32%. "Uma trajetória de desaceleração gradativa do IGP-M tende a ser o resultado mais frequente", comentou.

Desaceleração. De acordo com Quadros, o fator principal para a desaceleração do IGP-M entre fevereiro e março foi o comportamento dos preços agropecuários do atacado. No período, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que responde por 60% do IGP-M, caiu de 1,2% para 0,65%. Dentro desse segmento, os preços agropecuários recuaram de 2,75% para 1,37%. "A agropecuária explica a desaceleração do IPA e é o IPA que explica a desaceleração do IGP-M", avaliou.

Como era esperado pelo mercado financeiro, os itens que mais ajudaram o IPA agropecuário foram a soja e o milho. O preço da soja, que atualmente tem o maior peso na composição do IPA, caiu 6,2% em março ante queda de 0,72% em fevereiro. O milho, por sua vez, ajudou a inflação do atacado porque saiu de uma alta expressiva de 9,84% para uma variação positiva bem menor, de 1,46%. "Se falarmos de soja e milho, já contamos 90% da história", disse Quadros.

Mesmo com esse cenário favorável na parte agropecuária, o coordenador chamou a atenção para alguns comportamentos de itens in natura que ainda trouxeram impactos de alta para o IPA e para o IGP-M. Entre os destaques, ele citou o tomate, cuja elevação foi de 16,9% para 26,27% entre fevereiro e março, e a batata-inglesa, cuja variação positiva passou de 4,91% para 17,4%. Outro item da agropecuária que mereceu citação foi o feijão, com alta de 7,23% em março ante queda de 10,35% em fevereiro.

Ontem, na divulgação à imprensa, Quadros mostrou um levantamento da FGV que retrata o atual cenário das matérias-primas agropecuárias. Segundo a instituição, o nível atual de preços supera em 19,9% o pico atingido em 2008, quando havia grande pressão das commodities internacionais nos preços desse tipo de item. O mesmo levantamento ressaltou, porém, que a alta de 0,71% nesse conjunto de preços em março foi a menor desde junho de 2010. "É alguma coisa contribuindo para uma desaceleração", avaliou.

Segundo ele a mensagem que pode ser repassada é de que a trajetória para 2011 é mais otimista do que a de 2010, quando o IGP-M mostrou acelerações consecutivas até acumular 11,32% em 12 meses até dezembro.

Tendência

SALOMÃO QUADROS COORDENADOR DE ANÁLISES ECONÔMICAS DA FGV

"A agropecuária explica a desaceleração do IPA e é o IPA que explica a desaceleração do registrada em março pelo IGP-M."

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