Título: Analistas apostam na alta dos juros pelo BCE
Autor: Milanese, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2011, Economia, p. B14

Elevação é consenso depois de taxa ter sido mantida por dois anos no piso histórico de 1%; a discussão agora é saber quais serão os próximos passos

Nada será capaz de brecar a determinação do Banco Central Europeu (BCE) de puxar a fila das principais autoridades monetárias do mundo e dar início ao processo de alta dos juros. Analistas consideram as incertezas trazidas pela crise de dívida soberana na Europa e pelo desastre no Japão insuficientes para conter a artilharia do presidente da instituição, Jean-Claude Trichet, contra a inflação.

Depois de manter a taxa por quase dois anos no piso histórico de 1%, é consenso que o BCE elevará os juros na reunião da próxima quinta-feira. Agora, a discussão é saber quais serão os passos a partir daí.

Em meio à forte recuperação da Alemanha e França, a autoridade monetária mira o aumento do custo de vida causado pela disparada das commodities - o índice de preços acumula alta anual de 2,4% em fevereiro, acima da meta de 2% da zona do euro.

O recado mais forte do BCE veio na última reunião, realizada no início do mês. Até então, acreditava-se que a autoridade só começaria a elevar as taxas no quarto trimestre deste ano. Por isso, Trichet provocou um verdadeiro choque na comunidade financeira, ao dizer que uma "forte vigilância" é necessária para garantir que o recente aumento das commodities não se traduza em avanço generalizado da inflação.

A expressão é bem conhecida dos analistas e, na língua do BCE, significa alta de juros iminente. Foi exatamente esse termo que deu a senha para o ciclo de aperto iniciado em 2005.

Alemanha reforça aposta. Analistas ouvidos pela Agência Estado acreditam que o BCE vai passar por cima de todos os problemas e decidir por uma alta de 0,25 ponto porcentual dos juros na próxima semana. "O mercado dá como certo o aumento na reunião de abril", afirmou Lena Komileva, estrategista global da corretora Brown Brothers Harriman. "O BCE vai elevar os juros agora, a questão é saber como agirá depois disso", disse Luis Costa, estrategista do Citigroup.

O bom desempenho da economia alemã reforça a avaliação de que os juros deixarão em breve o piso histórico. Até agora, a atividade não sentiu os efeitos da alta do petróleo ou da tragédia no Japão. "A Alemanha é a principal máquina de crescimento da zona do euro e, como suas exportações não estão muito expostas aos problemas na periferia, no Japão e no Norte da África e Oriente Médio, há pouca coisa para dissuadir o BCE de subir os juros em 7 de abril", avalia Tom Levinson, analista do ING.

Segundo Arne Lohmann Rasmussen, analista do Danske Bank, os comentários mais recentes dos membros do BCE não deixaram dúvidas de que o início do aperto virá, apesar das incertezas.

No início da semana, Trichet reiterou sua preocupação com a alta dos preços e disse que a diferença de competitividade entre os países da região gera inflação.

Em entrevista a um jornal alemão, Juergen Stark, membro do Conselho Executivo do BCE, afirmou que a política monetária tornou-se "muito acomodatícia" e é hora de trazer as taxas de juros "passo a passo" para a normalidade. Após a alta esperada de 0,25 ponto porcentual na próxima semana, a discussão será sobre os próximos passos.

Tigre celta A Irlanda voltou a despertar cautela. Já está consolidada a visão de que os bancos do país precisarão de outra injeção de recursos, após a divulgação hoje dos resultados dos testes de estresse.