Título: Produção de cana deve ter nova queda
Autor: Russo, Guilherme
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2011, Internacional, p. A20

O economista Oscar Espinosa Chepe afirmou que outro sintoma do "fracasso" das "insuficientes e demoradas" medidas já tomadas pelo regime de Raúl Castro é a queda que a produção de cana-de-açúcar deve sofrer este ano. Em 2010, o país registrou a mais baixa produção dos últimos anos, com uma colheita de 1,1 milhão de tonelada. Para este ano, até maio os cubanos esperam colher até 1 milhão.

Na semana passada, porém, a um mês do fim da temporada favorável à produção do insumo, a diferença ainda era de 27,3%, com cerca de 800 mil toneladas colhidas. O governo afirmou que na safra de 2011, apesar de o tempo ter contribuído para uma boa colheita, os 39 engenhos que ainda funcionam na ilha operaram a apenas 68% do rendimento esperado. Chepe lembrou que no início da década de 90 Cuba contava com 156 centrais do gênero. "No ano passado eram 42."

O economista atribuiu a baixa recente na produção agrícola a um outro "fracasso" do governo cubano: a cessão de terras para "novos camponeses", ocorrida há três anos. "A iniciativa não deu certo. Ano passado o governo falou em uma queda de 3%, mas pelos meus cálculos, ela foi maior."

Chepe afirmou que a situação em Cuba este ano "piorou também por causa dos cortes nos gastos sociais e no fornecimento de produtos do livreto de racionamento". Segundo o dissidente, o custo de vida na ilha está em ascensão, pois as mercadorias anteriormente subsidiadas pelo governo, quando aparecem no mercado, aumentam de preço.

Congresso. Autor do livro Cambios en Cuba: pocos, limitados y tardios, o economista de 70 anos critica as medidas de abertura tomadas até agora pelo governo da ilha. De acordo com Chepe, as consequências imediatas na sociedade do país fizeram com que as diretrizes do 6º Congresso do Partido Comunista Cubano, marcado para ocorrer entre os dias 16 e 19 em Havana, voltassem a ser discutidos.

Para Chepe, as consequências das recentes mudanças obrigaram a uma "revisão" do Projeto de Alinhamentos da Política Econômica e Social, que deverá ser ratificado pelos mil delegados que participarão do encontro.

O economista diz que, juntamente com as recentes medidas, pelas diretrizes do congresso "se evidencia o propósito de realizar mudanças tardias e pequenas para manter o que constitui na realidade a fonte real dos problemas: um sistema absolutamente disfuncional e um regime totalitário que levou a nação ao mais completo desastre e à dependência incerta de fatores externos".

No dia 26, o ministro da Economia e Planificação, Marino Murillo Jorge, deixou o cargo para ocupar-se exclusivamente do congresso, segundo anunciou o jornal estatal Granma.

O Estado procurou o governo cubano para obter informações detalhadas e respostas às críticas ao regime. O Centro de Prensa Internacional en La Habana afirmou, porém, que "nesses momentos não é possível" que ninguém conceda entrevista.