Título: Havana falha em cumprir suas metas de reforma
Autor: Russo, Guilherme
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2011, Internacional, p. A20

Março acaba e as 500 mil demissões do setor público anunciadas para o fim do 1º trimestre não ocorrem; congresso comunista tem diretrizes revistas

Em setembro, o governo de Raúl Castro anunciou uma medida controvertida para modernizar a economia de Cuba: demitir 500 mil trabalhadores do funcionalismo público em seis meses. Tanto partidários do regime quanto opositores criticaram a intenção, que deveria ter sido posta em prática até o fim do primeiro trimestre de 2011. Passado março, porém, o presidente não chegou nem perto de sua meta.

"Raúl teve de paralisar o processo de demissões porque não foram criados postos de trabalho suficientes nesse período", disse ao Estado o economista cubano Oscar Espinosa Chepe, que trabalhou para o governo de Fidel Castro por quase 20 anos e já esteve preso por "traição" depois de passar à dissidência do regime.

A intenção do governo cubano é eliminar 1,3 milhão de postos para trabalhadores públicos - aproximadamente 25% do total de funcionários.

Até janeiro, cerca de 113 mil autorizações para os cubanos exercerem atividades privadas haviam sido emitidas pelo governo. No início de março, no entanto, o presidente cubano anunciou que a transição para uma economia de mercado mais competitiva em Cuba tardará pelo menos cinco anos.

De acordo com um cálculo feito pela agência Reuters, nas províncias de Granma, Camaguey e Santiago de Cuba, cerca de 7 mil funcionários foram dispensados. Antes da demissão em massa, cerca de 85% da população cubana ocupava cargos no governo. Segundo Chepe, a província de Havana - que abriga a capital homônima - já sente também o efeito de algumas demissões e outras medidas do regime.

O economista contou que o corte do projeto social que mandava os adolescentes estudar no campo, envolvendo os alunos em oficinas de agricultura, fez com que os jovens voltassem a viver com os pais.

"Antes eles tinham uma calça, uma camisa, comida... E agora suas famílias é que estão sofrendo, pois não tiveram compensações salariais (para prover o sustento dos estudantes antes garantido pelo governo). Isso é preocupante", diz Chepe.

PARA ENTENDER

Entre os dias 17 e 19, o 6.º Congresso do Partido Comunista Cubano ocorre em Havana para ratificar medidas - como cortes em subsídios sociais e emissões de autorizações de trabalho privado - que pretendem modernizar a economia da ilha