Título: Alta do petróleo já eleva índices e ameaça recuperação dos EUA
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2011, Economia, p. B12

Inflação elevada coloca em risco toda a estratégia de recuperação da economia americana[br]desenhada pelo Fed

Com sua economia travada pela crise financeira de 2008, os Estados Unidos não se preocupavam com a inflação até o fim do ano passado. As taxas tão próximas a zero despertavam o temor contrário, de deflação e de estagnação, e alentaram as medidas monetárias adotadas para acelerar o ritmo da atividade econômica.

Neste início de ano, o aumento da cotação internacional do petróleo e de outras commodities foi avaliado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) como uma ameaça potencial à recuperação da economia do país.

A variação do índice de preços ao consumidor nas grandes cidades (CPI-U) foi de 0,5% em fevereiro, em cálculo sazonalmente ajustado. O porcentual foi igual ao de janeiro e o maior indicador mensal desde fevereiro de 2009. Nos 12 meses encerrados em fevereiro, o CPI-U subiu 2,1%. As pressões maiores de preços vieram da gasolina e da energia. Alimentos como vegetais frescos e carne também contribuíram para elevar o índice.

"Aumentos sustentáveis nos preços do petróleo e de outras commodities representariam uma ameaça ao crescimento e à estabilidade de preços, particularmente se mexerem na expectativa ancorada de inflação baixa", afirmou o presidente do Fed, Ben Bernanke, no Comitê de Finanças do Senado, no início de março.

A inflação elevada colocaria em risco toda a estratégia de recuperação da economia americana desenhada pelo Fed. Nessa equação, a política monetária tem sido usada à larga. A taxa de juros básica tem sido mantida entre 0% e 0,5% e, apesar dos protestos da oposição republicana, Bernanke deu aval à emissão de US$ 600 bilhões ao longo deste semestre, a serem usados na recompra de títulos do Tesouro americano.

Criticada. Ao injetar esse volume de recursos no mercado, a expectativa é tornar os empréstimos menos custosos e estimular o consumo interno. A iniciativa, entretanto, é apontada como inflacionária pelos republicanos. Também é criticada por provocar aumento dos fluxos de capitais para países emergentes, como o Brasil, e por forçá-los a lidar com uma taxa de câmbio sobrevalorizada. No entanto, mesmo os críticos não veem outra opção para dar impulso e vigor à maior economia do mundo e para desviá-la de nova recessão.

O Fed não dá sinais de elevação da taxa de juros ao longo de 2011 nem de alteração no calendário de injeção de dólares, sob o preceito de inflação baixa por um longo período. A economia americana, por enquanto, vem se recuperando a passos lentos.

A taxa de desemprego tem caído aos poucos, desde o ano passado, mas ainda está em nível elevado, de 8,8% em março. Há 13,5 milhões de trabalhadores sem emprego, número que inclui as pessoas que deixaram de procurar trabalho. Os empregos criados, em boa parte, são temporários e/ou de meio período. Ante esse quadro, uma onda consumista no país, com inevitável impacto nos preços, seria surreal.

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