Título: BCE deve tomar dianteira e elevar juro
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2011, Economia, p. B12

Reunião da autoridade monetária europeia na 5ª-feira terá como pano de fundo sete meses consecutivos de altos índices de inflação

Pressionada há 15 meses pela crise das dívidas soberanas, a União Europeia (UE) terá de voltar a lidar com um antigo inimigo: a inflação. No maior bloco econômico do mundo, a elevação de preços, antes sob controle, agora já preocupa o Banco Central Europeu (BCE), que deve anunciar na quinta-feira a primeira alta na sua taxa de juros em quase dois anos. A razão: em março, o índice de inflação anualizada no continente foi de 2,6%, a sétima alta consecutiva e a quarta a superar o teto da meta estabelecido pela autoridade monetária.

A escalada inflacionária na Europa teve início em agosto de 2010, quando o índice foi de 1,6%. Desde então, não para de subir: 1,9% em setembro, outubro e novembro; 2,2% em dezembro; 2,3% em janeiro; e 2,4% em fevereiro.

Na sexta-feira, veio a pior notícia. Enquanto especialistas ouvidos pela agência Dow Jones Newswires previam média de 2,3% de inflação no bloco, a taxa alcançou 2,6% em março, segundo levantamento preliminar divulgado pelo Escritório Estatístico das Comunidades Europeias.

Foi o quarto mês consecutivo acima de 2%, o limite da meta do BCE - sendo que Jean-Claude Trichet, presidente da instituição, é reconhecido entre seus pares por não gostar de inflação nem perto do limite.

Outra má notícia é de que vários países em crise da Europa Ocidental contribuíram com inflações elevadas, caso da Espanha, com 3,3%, e Bélgica, com 3,52%, de acordo com dados provisórios.

Entre as causas mais evidentes do aumento dos preços está a energia, que chegou a 3,2%, o maior avanço desde outubro de 2008. Os preços de atacado dos produtos industriais também contribuíram, ao registrarem a maior alta histórica desde novembro de 2002.

"A aceleração parece se explicar pelos preços de roupas e de energia", afirma Dominique Barbet, responsável de Pesquisa de Mercado do BNP Paribas. O banco estima a inflação em torno de 3% até o terceiro trimestre, fechando em 2,7% na zona do euro em 2011.

China. Apesar das evidências que pesam sobre a energia e a indústria europeias, um fator subjacente vem sendo considerado por especialistas: a inflação na China e em países emergentes. Economias como a da Alemanha e da Bélgica vêm sendo inundadas nos últimos meses por produtos asiáticos. Só as importações alemãs de produtos chineses é equivalente às feitas pela França, Itália, Espanha, Portugal e Grécia juntas - um total de ? 63 bilhões.

Conta contra essa tese o fato de que na Alemanha, a maior economia do bloco, a inflação por ora ainda está próximo ao limite da meta: 2,1% em março, taxa pressionada pelo crescimento dos salários.

Seja qual for a origem, a inflação na Europa deve obrigar o Banco Central Europeu a elevar sua taxa básica de juros na quinta-feira, invertendo a estagnação iniciada em maio de 2009, quando o índice foi rebaixado a 1%. Na última reunião do Conselho de Política Monetária da instituição, realizada em março, Trichet já havia insinuado que a primeira elevação poderia acontecer em abril.

"As informações disponíveis desde a reunião de 3 de fevereiro indicam uma alta da inflação, que reflete principalmente a alta dos preços das matérias-primas", advertiu na oportunidade.

Na quinta-feira, Juergen Stark, economista-chefe do BCE, indicou em entrevista ao jornal Financial Times que o aumento é iminente ao considerar que é hora de dar "meia-volta" na política monetária.

Em nota, a consultoria Action Forex aposta em uma sequência de elevações. "As cifras de inflação mais fortes que o previsto confirmaram que o BCE poderá aumentar suas taxas em abril e reforçaram a probabilidade de novas altas neste ano."