Título: População sente aperto e começa a mudar hábitos
Autor: Milanese, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2011, Economia, p. B16

O caldeirão formado pelo trauma da crise, medo dos cortes e aumento do custo de vida tem deixado os britânicos apreensivos. O efeito é percebido no dia a dia, principalmente pelas pessoas que dependem mais dos serviços públicos. Muitos já reclamam da redução do policiamento pelas ruas. Instituições de caridade terão de conviver com orçamentos mais apertados. Diversos projetos artísticos deixarão de contar com suporte financeiro do governo. Bibliotecas, piscinas públicas e parques receberão menos recursos.

A carga tributária é outro fator que aperta o bolso dos britânicos. O imposto sobre o valor agregado (IVA) dos produtos subiu de 17,5% para 20% em janeiro deste ano, com impacto direto sobre o consumo.

"Meu salário não aumenta, mas os impostos sobem e os benefícios são cortados, então é claro que isso me afeta diretamente", diz o detetive Liwichi Djerioni, 45 anos, que mora num apartamento concedido pelo governo em Londres.

Cientes de que o cobertor ficará mais curto, os britânicos começaram a controlar mais os gastos. O crédito farto e barato permitiu por anos um padrão de consumo extremamente elevado. "Eu e meus amigos estamos saindo menos, porque os restaurantes estão muito caros", afirma a microempresária Emma, de 36 anos, que não quis informar o sobrenome.

Até mesmo as sagradas férias dos britânicos começam a perder espaço no orçamento doméstico. Segundo a operadora de turismo Thomas Cook, as reservas para o próximo verão desaceleraram bastante nos últimos meses. É verdade que os números também foram afetados pelos conflitos no mundo árabe, pois Tunísia e Egito estão entre os destinos preferidos dos britânicos.

"Eu sou aposentada e nem tenho como gastar menos", esbraveja Joyce Franly, ao constatar que será afetada pela política do primeiro-ministro David Cameron.

Em meio às reclamações, está também a certeza de que não haverá como fugir desses novos tempos, pois o caminho da austeridade adotado pelo atual governo é irreversível. Em alguns, a sensação é de resignação. "Essa é a realidade e não há nada que a gente possa fazer", conforma-se a estudante Nilly Damwanova, 24 anos.

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