Título: Substituto de Agnelli sai na semana que vem
Autor: Ciarelli, Mônica
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2011, Economia, p. B10

O conselho de administração da Valepar, holding que controla a Vale, vai indicar o nome do novo presidente da Vale na quinta-feira. Ontem, o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, reclamou que sua indicação para o conselho de administração da Vale está sendo tratada com uma conotação política acima do normal. "Tem muita carga política nesse assunto, mais do que deveria ter", desabafou.

Barbosa passará a integrar o Conselho depois da assembleia geral de acionistas marcada para o dia 19 de abril. O novo corpo de conselheiros dará posse ao substituto de Roger Agnelli na presidência da mineradora.

Argumentando que sua indicação para o Conselho - que decide toda a estratégia de investimentos da Vale - não tem "necessariamente" uma correlação com o fato de estar no governo, Barbosa declarou que assume o cargo por sua ligação com o Banco do Brasil. "Estou representando os interesses da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) na Vale. Só isso", afirmou.

O secretário lembra que foi indicado pela Previ por ser presidente do conselho de administração do BB, que é patrocinadora do fundo de pensão. A Previ e o Bradesco são os dois maiores acionistas da mineradora.

Questionado sobre um possível interesse do governo em utilizar a companhia como instrumento de política industrial, o executivo foi taxativo ao negar. "O governo implementa sua política industrial com instrumentos de governo. As decisões de uma companhia aberta refletem o interesse de seus diversos acionistas", afirmou.

No fato relevante enviado na quinta-feira para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Vale informou que a Valepar convocou duas reuniões para a próxima semana. Na primeira, segunda-feira, homologará a contratação de uma consultoria de headhunter que formará a lista tríplice dos candidatos ao cargo. Três dias depois, escolherá o substituto.

A interferência política na sucessão no comando da Vale ganhou os holofotes após o Estado noticiar um encontro entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do conselho de administração do Bradesco, Lázaro Brandão. No encontro, Mantega teria pedido oficialmente a saída do executivo indicado pelo banco.

Para minimizar os rumores de ingerência do governo no processo de sucessão da Vale, os acionistas controladores buscaram apoiar uma solução interna. O nome mais cotado é o de Tito Martins, atual presidente da Vale Inco, subsidiária canadense do grupo. Com quatro vagas no conselho de administração da Vale, a Previ, além de Barbosa, pretende indicar Robson Rocha, atual presidente do conselho deliberativo da fundação. As outras cadeiras permanecerão com Ricardo Flores, presidente da Previ, e José Ricardo Sasseron, diretor de seguridade do fundo.

PARA LEMBRAR

A polêmica em torno da saída de Roger Agnelli do comando da Vale e, principalmente, quem será seu sucessor, continua. Na quinta-feira, a Vale informou ter contratado uma empresa de headhunter para auxiliar na escolha do nome.

Pelo acordo de acionistas da Vale, os controladores precisam escolher o presidente da empresa com base numa lista tríplice preparada por uma consultoria internacional.

O presidente da Vale Inco, Tito Martins, é o mais cotado para substituir Agnelli. Estaria na lista, também, o diretor executivo de Marketing, Vendas e Estratégia da Vale, José Carlos Martins.

A ideia de fazer do secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa (que ingressará como um dos conselheiros representantes da Previ), o novo presidente teria sido descartada.