Título: Repressão a protesto na Síria deixa 3 mortos
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2011, Internacional, p. A18

Milhares de manifestantes tomaram ontem as ruas de várias cidades da Síria para pedir reformas, desafiando as forças de segurança, que entraram em confronto com os manifestantes. Segundo informações, três pessoas morreram no subúrbio de Douma, na capital, Damasco, durante uma marcha que reuniu mais de 2 mil pessoas.

A multidão gritava "Liberdade. Liberdade. Um, Um, Um. O povo sírio é um", quando a polícia abriu fogo para dispersar os manifestantes. A polícia também usou gás lacrimogêneo e cassetetes contra os civis em várias cidades, incluindo Deraa e Latakia, no sul, segundo relatos de testemunhas nos sites Facebook e Twitter, informou o jornal The Wall Street Journal. Agentes de segurança à paisana ocuparam as principais praças de Damasco para intimidar os manifestantes e evitar que moradores participassem dos protestos, segundo testemunhas.

O chamado "Dia dos Mártires" foi convocado por ativistas dos direitos humanos e opositores para honrar as mais de 70 pessoas mortas durante os protestos que ocorreram no mês passado contra o presidente Bashar Assad. Um ativista sírio afirmou que ao menos três pessoas foram mortas durante confrontos no bairro de Douma, em Damasco, mas a informação não pode ser confirmada.

Respaldo. A minoria curda síria, geralmente marginalizada, uniu-se aos protestos nas cidades de Qamishli, Amouda e Derbasiya. A informação sugere que as manifestações estão se disseminando das grandes cidades para outras menores, superando ainda as divisões sectárias.

Ativistas convocaram as manifestações de ontem em reação ao discurso de Assad na quarta-feira. "Milhares se reuniram em Deraa, espontaneamente, após as orações de sexta-feira em todas as mesquitas, para rejeitar o discurso do presidente", disse o ativista político Abu Hazem à televisão Al-Arabiya.

Ele não falou sobre planos concretos para reformas no país, mas qualificou os manifestantes de traidores e culpou forças estrangeiras pelos protestos, que já duram mais de duas semanas. Segundo o presidente, o governo realizará reformas, mas no seu próprio ritmo, para que elas ocorram de forma apropriada, e não por pressão da oposição.

Assad ordenou na quinta-feira a formação de um comitê que investigará as mortes de civis durante os distúrbios. Esse comitê também deve ajudar o governo a avaliar se é possível acabar com a lei de emergência no país, vigente desde 1963. Essa lei tem sido usada para sufocar a oposição e justificar prisões arbitrárias.

Mas muitos sírios creem que o governo não cumprirá suas promessas e querem mudanças significativas rápido. "Não voltaremos a nossas casas antes de alcançar todas as demandas. Protestaremos por dias ou semanas", afirmou um ativista em uma mensagem no Facebook Revolução Síria 2011.